quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Hinos dos times brasileiros

Foto: MAFRA / Capa: Sérgio Grecu


Por Amanda Borba.

Uma das coisas que sempre achei legal no futebol são os hinos dos clubes. Trazem todo um charme ao esporte. É emocionante escutar o hino de um time após a conquista de um campeonato. Acho que todo torcedor tem obrigação em saber cantarolar o hino do seu time de coração. 

É difícil dizer qual hino é mais lindo, é questão de gosto. Ás vezes escuto pessoas falando que acham o hino de tal clube "feio", o que não concordo. Pra mim não existem hinos "feios". Particularmente, gosto de hinos mais vibrantes e principalmente das versões antigas, cantada pela Banda do Corpo de Bombeiros do Estado da Guanabara, pois os arranjos são mais garbosos e elaborados.

Abaixo coloquei a ordem dos hinos que considero mais bonitos, lembrando que é apenas uma opinião. 

1º lugar - Hino do Fluminense



Pra mim este é disparado o hino mais bonito. Acho até um pouco sentimental. É completo. Letra e melodia são lindíssimas. O Tricolor Carioca possui um hino oficial, mas seu hino não-oficial é o mais conhecido. O hino popular foi composto na década de 1940 pelo famoso compositor de marchinhas Lamartine Babo. Ele também compôs os hinos não-oficiais dos outros grandes clubes cariocas. 


"Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao Tricolor."

2º lugar - Hino do Flamengo



Durante muito tempo tive uma "quedinha" pelo hino do Flamengo. A letra e a melodia são vibrantes. Não tem como não cantarolar os versos mais famosos do hino. Assim como o Fluminense, o Flamengo possui dois hinos, um oficial e outro popular. Este é o hino não-oficial também escrito por Lamartine Babo.

"Uma vez Flamengo, 
Sempre Flamengo
Flamengo sempre eu hei de ser
É o maior prazer vê-lo brilhar
Seja na terra, seja no mar
Vencer, vencer, vencer
Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer"


3º lugar - Hino do Botafogo



Todo mundo sabe os primeiros versos do hino botafoguense. É um hino alegre e cheio de fé. Este é mais um hino popular composto por Lamartine Babo e que ofuscou o hino oficial do Botafogo que é pouco conhecido na mídia e entre os torcedores. Hoje o hino sofreu uma alteração, mudou o ano de 1910 para 1907, depois da oficialização do campeonato carioca de 1907 em que o time da Estrela Solitária se sagrou campeão. 

"Botafogo, Botafogo
Campeão desde 1910
Foste herói em cada jogo, Botafogo
Por isso é que tu és."  



4º lugar - Hino do Atlético Mineiro



Segue também o mesmo padrão dos hinos cariocas. Este é o segundo hino do Atlético Mineiro. O primeiro hino foi composto em 1928 e em 1969 Vicente Motta escreveu outro hino a pedido da diretoria do Galo que queria exaltar a campanha vitoriosa na Europa em 1950 e o título Campeão dos Campeões de 1937. Vicente Motta havia vencido um concurso de marchinhas de carnaval em Belo Horizonte e se inspirou no estilo de Lamartine Babo para compor o hino mais famoso do alvinegro.

"Nós somos do Clube Atlético Mineiro 
Jogamos com muita raça e amor
Vibramos com alegria nas vitórias 
Clube Atlético Mineiro, Galo forte vingador." 


5º lugar - Hino do São Paulo



A letra é bonita, não tem muita pompa e é de fácil entendimento. A beleza está justamente na simplicidade. A melodia é o ponto alto, pois parece que o hino vai crescendo enquanto se escuta. O hino do São Paulo foi escrito pelo tenente da Força Pública e farmacêutico Porfírio da Paz em 1935. Reza a lenda que quando ele perdeu sua casa, por falta de pagamento, começou a cantarolar de nervoso o nome do seu time de coração. E assim nasceu o hino do Tricolor Paulista.

"Salve o Tricolor Paulista
Amado clube brasileiro
Tu és forte, tu és grande
Dentre os grandes és o primeiro."  

6º lugar - Hino do Palmeiras



É um hino dotado de vida. Acho muito animado. O hino do Verdão foi composto pelo torcedor, músico e médico italiano naturalizado brasileiro Antonio Sergi e que usava o pseudônimo Gennaro Rodrigues.

"Quando surge o alviverde imponente 
No gramado em que a luta o aguarda
Sabe bem o que vem pela frente 
Que a dureza do prélio não tarda."  


7º lugar - Hino do Santos



É simples, mas inflamado. Este é o hino mais famoso do Peixe. A marchinha Leão do Mar foi composta por Mangeri Neto e Mangeri Sobrinho e cantada pela primeira vez em 1955, após o jejum de 20 anos sem títulos ser quebrado. O outro hino considerado oficial foi escrito em 1957 e também é belíssimo. Talvez até mais bonito que o hino popular.

"Agora quem dá bola é o Santos
O Santos é o novo campeão
Glorioso alvinegro praiano
Campeão absoluto desse ano."

8º lugar - Hino do Corinthians



A letra do hino é lindíssima, mas acho a melodia um pouco triste. O Corinthians na década de 30 teve um hino pouco conhecido. Escutei o hino antigo, mas achei chatíssimo, não tem comparação com o atual. Já o atual poema corintiano, batizado como Campeão dos Campeões, foi composto em 1953 pelo radialista Lauro D'Ávila e popularizou-se depois da conquista do Campeonato Paulista de 1954, o tão famoso IV Centenário, mas que foi decidido em fevereiro de 1955.

"Corinthians grande,
Sempre Altaneiro,
És do Brasil
O clube mais brasileiro."

9º lugar - Hino do Internacional



A letra do hino colorado é maravilhosa, mas acho que a melodia deixa o hino um pouco pra baixo. Em 1957, o torcedor carioca Nelson Silva, compositor do morro, e que morava há nove anos em Porto Alegre, escreve o hino do Colorado gaúcho no dia de uma derrota do seu time de coração. Assim nasceu, o hino Celeiro de Ases.

"É teu passado alvi-rubro
Motivo de festas em nossos corações
O teu presente diz tudo
Trazendo à torcida alegres emoções
Colorado de ases celeiro
Teus astros cintilam num céu sempre azul
Vibra o Brasil inteiro
Com o clube do povo do Rio Grande do Sul."


10º lugar - Hino do Grêmio



Gosto da força do hino do Grêmio. Me sinto numa manifestação, num protesto. O primeiro hino do Grêmio foi composto em 1924. Em 1946, a diretoria gremista promoveu um concurso para a escolha do novo hino. O hino atual foi escrito pelo gremista e famoso compositor porto-alegrense Lupicínio Rodrigues em 1953. O hino foi inspirado numa greve de bondes que ocorreu em Porto Alegre, no mesmo ano. Mesmo com este obstáculo muitos gremistas seguiram a pé até o estádio para ver o Tricolor Gaúcho.

"Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver."


Este é o meu top 10 dos hinos dos times brasileiros. Alguns belos cânticos ficaram de fora, como o hino do América-RJ, o hino do Vasco da Gama e o hino do Cruzeiro. Sei que muita gente pode não concordar com a ordem, mas como falei é apenas uma opinião.  Mas e aí, qual é o hino mais bonito na sua opinião, caro leitor do Psicoisinhas?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dicionário de símbolos


Água






As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes:
1) fonte de vida;
2) meio de purificação;
3) centro de regenerescência.

As águas, massa indiferenciada, representando a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção.

Mergulhar nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se, de novo, num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova: fase passageira de regressão e desintegração, condicionando uma fase progressiva de reintegração (banho, batismo, iniciação).

Na Ásia, a água é a forma substancial da manifestação, a origem da vida e o elemento da regeneração corporal e espiritual, o símbolo da fertilidade, da pureza, da sabedoria, da graça e da virtude.
Fluída, sua tendência é a dissolução; mas, homogênea, é também símbolo da coesão, da coagulação.
Como tal, poderia corresponder à sattva, rajas e tamas, os três gunas. Os três gunas - sattva, rajas e tamas - são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou prakriti.


Sattva é a palavra em sânscrito que significa equilíbrio, verdade, bondade, harmonia, consciência, beleza e pureza, mas, como a água escorre para baixo, para o abismo, sua tendência é o tamas (conceito filosófico de trevas e morte, a menor das três gunas - sânscrito = corda); como se estende na horizontal, sua tendência é aindarajas (sânscrito, é na escola Samkhya de filosofia hindu, o guna responsável pela energia de movimento e preservação. Sustenta e mantém a atividade dos outros dois gunas - sattva e tamas).

A água é a matéria prima, a Prakriti (para os estudiosos vendantes e na Teosofia, é a natureza objetiva e ilusória): Tudo era água, dizem os textos hindus; as vastas águas não tinham margens, diz um texto taoísta.

As Águas, representado a totalidade das possibilidades de manifestação, se dividem em:
1) Águas superiores, que correspondem às possibilidades informais (indeterminadas); e
2) Águas inferiores, que correspondem às possibilidades formais (determinadas).
Nagas.
Dualidade que o Livro de Enoch traduzirá em termos de oposição sexual, e que a iconografia representa frequentemente pela dupla espiral. As águas inferiores estão fechadas num templo de Lhassa (capital do reino do Tibete), dedicado aos reis dos nagas (palavra sânscrita e páli, para uma classe que adora uma divindade que toma a forma de uma grande serpente, o King Cobra, encontrado no hinduísmo e no budismo).


A noção de águas primordiais, de oceano das origens, é quase universal.

Pode ser encontrada até na Polinésia e a maior parte dos povos austro asiáticos situa na água o poder cósmico.

A ela se junta muitas vezes o mito do animal mergulhador, como o javali hindu, que traz um pouco de terra à superfície, embrião que aflora à manifestação formal.

Por ser um dom do céu é um símbolo universal de fertilidade e fecundidade.

A água é também um instrumento de purificação ritual.
Oposta ao fogo, a água é yin (feminino no Tao, cor escura do símbolo Yin-Yang).
Este hexagrama consiste na repetição do trigrama K’an, sendo, portanto, um dos oito hexagramas em que um mesmo trigrama se repete acima e abaixo. K’an significa precipitar-se. Uma linha Yang precipitou-se entre duas linhas Yin e é aprisionada por elas, assim como a água num desfiladeiro. K’an é também o filho do meio. O Receptivo recebeu a linha média do Criativo e assim se formou K’an. Enquanto imagem é a água, a água que vem do alto e que se movimenta na terra em rios e correntezas, dando origem a toda a vida. Aplicado ao homem, representa o coração, a alma aprisionada no corpo, o princípio de luz contido na escuridão, ou seja, a razão. O nome do hexagrama possui ainda o significado adicional de “repetição do perigo”, em virtude da duplicação do trigrama K’an. Assim o hexagrama procura indicar uma situação objetiva à qual é preciso acostumar-se, e não uma atitude subjetiva. Pois o perigo devido a uma atitude subjetiva significa temeridade ou astúcia. Assim sendo, o perigo será simbolizado pelo desfiladeiro, isto é, uma condição na qual o homem se encontrará como a água num desfiladeiro e do qual poderá sair se, assim como a água, mantiver a conduta correta.
Corresponde ao norte, ao frio, à cor negra, ao trigrama k'an, que é o abissal.



Também está ligada ao raio, que é fogo.

Nas tradições judaica e cristã, á agua simboliza a origem da criação.

Fonte de todas as coisas, manifesta o transcendente e deve ser considerada como uma hierofania (manifestação do sagrado).

A água é fonte de vida e de morte, criadora e destruidora (ambivalência comum aos símbolos).
Todo o Antigo Testamento celebra a magnitude da água.

A água se torna o símbolo da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas vezes recusada pelos homens.

Símbolo da vida no Antigo Testamento, a água se tornou, no Novo, símbolo do Espírito (Apocalipse, 21).

A água viva, a água da vida se apresenta como um símbolo cosmogônico (termo que abrange diversas lendas e teorias sobre as origens do universo). E porque ela cura, purifica e rejuvenesse, conduz ao eterno.

Segundo Tertuliano, o Espírito Dvino escolheu a água entre os diversos elementos, pois, ela se mostra, desde a origem, como matéria perfeita, fecunda e singela, totalmente transparente (De baptismo, 3).

Possui, por si mesma, uma virtude purificadora e, por isso, é considerada sagrada e utilizada nas abluções rituais.

Por sua virtude, a água apaga todas as infrações e toda mácula.

A água do batismo lava os pecados e só é conferida uma vez porque faz aceder a um outro estado: o do homem novo.


Essa rejeição do homem velho, ou melhor, essa morte de um momento da história, é comparável a um dilúvio, porque este simboliza uma desaparição, uma destruição: uma era se aniquila, outra surge.

A água, possuidora de uma virtude que purifica, exercerá um poder de salvação.

A água apaga a história, pois restabelece o ser num estado novo.

No curso dos séculos, a Igreja se levantou muitas vezes contra o culto prestado às águas.

Mas os desvios pagãos e a volta das superstições sempre constituíram uma ameaça.

As grandes águas anunciam, na Bíblia, as provações.

O desencadeamento das águas é o símbolo das grandes calamidades.

Assim, a água também comporta um poder maléfico.
A prova de fogo, de Dierec Bouts, o Velho (1415-1475). Ordálio ou ordália é um tipo de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. Também é conhecido como juízo de Deus (judicium Dei, em latim). As práticas mais comuns do ordálio são as que envolvem submeter o acusado a uma prova dolorosa. Se a prova é concluída sem ferimentos ou se as feridas são rapidamente curadas, o acusado é considerado inocente. Na Europa medieval, este tipo de procedimento fundava-se na premissa de que Deus protegeria o inocente, por meio de um milagre que o livraria do mal causado pela prova. Apesar de haver sido amplamente praticado durante a Idade Média na Europa, o ordálio possui raízes mais antigas, em culturas politeistas tão remotas quanto o Código de Hamurábi e o Código de Ur-Nammu, bem como em sociedades tribais animistas, como o julgamento pela ingestão da "água vermelha" (fava-de-calabar) em Serra Leoa. Nas sociedades pré-modernas, o ordálio era um dos três principais meios de prova que habilitavam o juiz a proferir um veredito, juntamente com o juramento e o testemunho. Na Europa, os ordálios em geral consistiam em testar o acusado no fogo ("prova de fogo") ou na água, embora a natureza precisa da prova variasse conforme o lugar e a época. O fogo costumava ser reservado para testar acusados de origem nobre, enquanto que a água era mais usada para os plebeus. A Igreja Católica por meio dos papas condenou sucessivamente o ordálio, por exemplo, Estêvão VI em 887/888, Alexandre II em 1063, e mais prominentemente Inocêncio III no IV Concílio de Latrão em 1215, proibindo que o clero cooperasse com os julgamentos pelo fogo e pela água, substituindo-os pela compurgação (um misto de juramento e testemunho). Mesmo assim, os julgamentos por ordálio escassearam somente no final da Idade Média, em geral substituídos pela confissão mediante tortura, mas a prática caiu em desuso apenas no século XVI nos países menos cristianizados.
Como o fogo, a água pode servir de ordálio. Os objetos nela lançados se julgam, a água não profere senteça.


Símbolo da dualidade do alto e do baixo: água de chuva (pura) - água do mar (salgada).

Símbolo de vida: pura, é criadora e purificadora (Ezequiel,36,25); amarga, produz a maldição (Números, 5,18).

Os rios podem ser correntes benéficas ou dar abrigos a monstros. As águas agitadas significam o mal, a desordem.

No folclore judaico, a separação feita por Deus, quando da criação das águas superiores e infeirores, designa a partilha das águas masculinas e femininas, simbolizando a segurança e a insegurança, o masculino e o feminino, o que se liga a um simbolismo universal.

Nas tradições do Islã, a água simboliza tambem inúmeras realidades.

O Corão designa a água benta que cai do céu como um dos signos divinos. Os Jardins do Paraísotêm arroios de águas vivas e fontes (Corão, 2,25; 88,12; etc).

O próprio homem foi criado de uma água que se difundiu(Corão, 86, 6).

Rumi (poeta, jurista e teólogo muçulmano persa do século XIII) simboliza o Fundamento divino do universo por um oceano, do qual a água é a essência divina. Ela permeia toda a criação e as vagas são criaturas suas.

Um muçulmano realizando um dos passos do Wudu ao lavar o rosto antes da oração.
A prece ritual muculmana - çalat - não pode ser cumprida validamente senão quando o orante se põe em estado de pureza ritual com suas abluções, cujas modalidades constituem objeto de normas minuciosas.


O peixe, lançado na confluência de dois mares, no Surata (sura, surata ou surat é o nome dado a cada capítulo do Corão. São 114 suras, subdivididas em versículos - ayat) da Caverna (Corão 18, v. 61, 63) ressuscita, quando mergulhado na água. Esse simbolismo faz parte de um tema iniciático: o banho na Fonte da Imortalidade. O tema retorna constantemente na tradição mística islâmica, especialmente no Irã. Essa fonte fica situada no país das Trevas (simbolismo que deve ser aproximado do simbolismo do inconsciente, de natureza feminina e yin).

Enfim, a água simboliza a vida:
1) a água da vida,
2) que se descobre nas trevas,
3) e que regenera.

Em todas as outras tradições do mundo, a água desempenha papel primordial, que se articula em torno dos três temas acima, mas com uma insistência particular nas origens.

De um ponto de vista cosmogônico, a água recobre dois complexos simbólicos antitéticos (antíteses), que é preciso não confundir:

1) a água descendente e celeste, a Chuva, é uma semente uraniana ( palavra comum no século dezanove que era utilizada para referir uma pessoa do terceiro sexo - no sentido da época, alguém com "uma psique feminina num corpo masculino", alguém que se sente atraído sexualmente por homens, e que teve, mais tarde, o seu significado aumentado para incluir homossexuais femininas, bem como outras variantes sexuais) que vem fecundar a terra.; masculina, portanto, associada ao fogo do céu.

2) Já a água primeira, a água nascente, que brota da terra e da aurora branca, é feminina: a terra está aqui associada à Lua, como um símbolo de fecundidade completa e acabada, terra grávida, de onde a água sai para que, desencadeada a fecundação, a germinação se faça.
Tanto num caso quanto no outro, o símbolo da água contém o do sangue, que recobre um sentido duplo:
1) o sangue celeste, associado ao Sol e ao fogo;
2) o sangue menstrual, associado à Terra e à Lua.

Através dessas duas oposições, se discerne a dualidade fundamental, luz-trevas.

Entre os astecas, o sangue humano, necessário à regeneração periódica do Sol, se chama chalchiuatl, água preciosa, isto é, o jade verde, o que remete à complementariedade das cores vermelho e verde. A água é o equivalente simbólico do sangue rubro, força interna do verde, porque a água traz em si o germe de vida, correspondente ao vermelho, que faz renascer ciclicamente a terra verde depois da morte hibernal.

Dogon é um povo que habita o Mali e o Burkina Faso. Os dogons do Mali são um povo que vive em uma remota região no interior da África Ocidental - são cerca de 200 mil e a sua maioria vive em aldeias penduradas nas escarpas de Bandiagara, ao leste do Rio Níger. Ainda não podem ser qualificados como "primitivos", pois possuem um estilo de vida muito complexo, e não são excelentes candidatos a possuir conhecimentos científicos. Contudo, possuem um conhecimento muito preciso do sistema estelar de Sirius[1] (incluindo pelo menos uma estrela que ainda não foi identificada pelos astrônomos) e dos seus períodos orbitais. Os sacerdotes dogons dizem que sabem desses detalhes, que aparentemente são transmitidos oralmente e de forma secreta, séculos antes dos astrônomos.
A água, semente (esperma) divina, de cor verde, fecunda a terra para dar aos Heróis, os Gêmeos, na cosmogonia dos dogons. Esses gêmeos vêm ao mundo, homens até os rins e serpentes daí para baixo, da cor verde.Para os dogons e seus vizinhos bambaras a água - ou o sêmen divino - é também a luz, a palavra, o verbo gerador, cujo principal avatar ( manifestação corporal de um ser imortal segundo a religião hindu, por vezes até o Ser Supremo) mítico é a espiral de cobre vermelho.


O glifo solar dos dogons e dos bambaras é revela­dor: é feito de um pote (matriz original) envolto por uma espiral de cobre vermelho de três voltas (símbolo da masculinidade); esta representa o verbo original, a primei­ra palavra do Deus Amma, i.e., o espírito, sêmen de divindade.
Entretanto, água e palavra não se fazem ato e manifestação, acarretando a criação do mundo, senão sob a forma de palavra úmida, à qual se opõe uma metade gêmea, que permanece fora do ciclo da vida manifestada, chamada pelos dogons e pelos bambaras de água seca e palavra seca, que exprimem o pensamento, a potencialidade, tanto no plano humano quanto no plano divino.

Toda água era seca, antes que se formasse o ovo cósmico, no interior do qual nasceu o princípio de umidade, base da gênese no mundo. Mas o Deus supremo uraniano, Amma, quando criou seu duplo, Nommo, Deus de água úmida, guia e princípio da vida manifestada, conservou com relação a ele, nos céus superiores, fora dos limites que deu ao universo, a metade de suas águas primeiras, que permanecem como águas secas.

Da mesma forma, a palavra que não se expressa, o pensamento, é dita palavra seca. Não tem senão valor potencial, não pode engendrar. No microcosmo humano, ela é a replica do pensamento primordial, a primeira palavra que foi roubada a Amma pelo gênio Yurugu, antes do advento dos homens atuais.

Para D. Zahan, essa palavra primeira, palavra indiferente, sem consciência de si mesma, corresponde ao inconsciente; é a palavra do sonho, aquela sobre a qual os humanos não têm poder.

O chacal, ou a raposa pálida, avatar de Yurugu, tendo furtado a primeira palavra, possui a chave do inconsciente, do invisível, e, em consequência, do futuro, que não é senão o componente temporal do invisível. Essa a razão pela qual o mais importante sistema divinatório dos dogons está fundado na interrogação desse animal.
Yurugu é o selvagem deus do caos e pai de inúmeros espíritos malígnos das matas do povo Dogon (Sudão e Mali). Ele é fruto do estupro da Mãe-Terra por Amma, deus do céu e das chuvas. Yurugu também estuprou sua mãe e, deste ato impuro, a terra tornou-se infértil (simbolismo para a menstruação feminina). Acreditando que sua irmã Yasigi estava escondida dentro do ovo cósmico de Amma, Yurugu roubou sua gema. No entanto, Amma havia deixado-a com os gêmeos Nommo para impedir as tentativas incestuosas do deus. Frustrado, Yurugu jogou fora a gema cósmica e ela se transformou numa Terra poeirenta e amarelada. Para salvar o planeta, Amma matou um dos gêmeos Nommo e espalhou seus pedaços para criar vida. Após isso, Yurugu foi banido por Amma para o deserto seco que criou. Costumava aparecer para o povo dogon (Sudão e Mali) como um chacal ou uma pálida raposa (é confundido com Ogo), levando discórdia e desordem. Pode ter ligações com o Anúbis egípcio.
Yurugu está igualmente associado ao fogo ctoniano (diz-se, em Mitologia, dos deuses que residem nas cavidades da terra) e à Lua, que são universalmente símbolos do inconsciente.

A divisão fundamental de todos os fenômenos em duas categorias, regidas pelos símbolos antagonistas da água e do fogo, do úmido e do seco, encontra uma notável ilustração nas práticas funerárias dos astecas.

Essas mesmas relações da água e do fogo se encontram nos ritos funeráreos dos celtas.

Em todos os textos irlandeses, a água é um elemento submetido aos druidas, que tem o poder de ligar e desligar. Os maus druidas do rei Cormac (rei e bispo de Munster - província irlandesa - de 902 até sua morte - 908)também ligaram os do Munster, para submeter os habitantes pela sede, e foi o druida Mog Ruith (figura da mitologia irlandesa, um druida poderoso e cego de Munster) que os desligou. Mas a água é também um símbolo de pureza passiva. Ela é um meio e um lugar de revelação para os poetas que lhe põem sortilégios a fim de obter profecias. Segundo Estrabão ( 63 a.C. ou 64 a.C. - cerca 24 d.C, foi um historiador, geógrafo e filósofo grego, autor da monumental Geographia, um tratado de 17 livros contendo a história e descrições de povos e locais de todo o mundo que lhe era conhecido à época), os druidas afirmavam que, no fim do mundo, reinariam apenas a água e o fogo (elementos primoridiais).

Na mitologia nórdica, Ymir, também chamado Aurgelmir, foi o fundador da raça de gigantes de gelo e uma figura importante na cosmologia nórdica. Gigante de gelo, foi morto por Borrs.
Entre os germanos, são as águas, correndo pela primeira vez na primavera à superfície dos gelos eternos que constituem a origem ancestral da vida, pois que, vivificadas pelo ar do sul, elas se juntam para formar um corpo vivo, o do primeiro gigante Ymir, do qual procedem os demais gigantes, os homens, e, até certo ponto, os próprios deuses.

A água-plasma, feminina, a água doce, a água dos lagos, a água estagnada e a do oceano, escumante, fecundante, maculina, são cuidadosamente diferenciadas na Teogonia de Hesíodo (poeta da Grécia Antiga):

1) a terra engendra, em primeiro lugar, sem gozar prazer com isso, Ponto, o mar estéril;

2) depois, unindo-se a seu filho Urano (deus grego que personificava o céu. Foi gerado espontaneamente por Gaia - a Terra - e casou-se com sua mãe), ela dá o oceano de abismos imensos: a Terra gerou o mar infecundo, com suas tumefações furiosas. Demasias de águas, sem a ajuda do terno amor. Mas depois dos embates com o Céu ela gerou Oceano, o dos turbilhões profundos(Hesíodo, Teogonia, 130-135);

3) a distinção entre a água estéril e a água fecundante está unida, à intervenção do amor.

A água estagnante, plasma da terra de onde nasce a vida, aparece em numerosos mitos de criação. Uma crista de limo emergindo das águas é a imagem mais frequente da criação nas mitologias egípcias.Um grande lótus saído das águas primordiais, tal foi o berço do Sol na primeira manhã.

A valorização feminina, sensual e maternal, da água foi cantada pelos poetas românticos alemães. É a água do lago, noturna, leitosa e lunar, onde a libido desperta.

Dos símbolos antigos da água como fonte de fecundação da terra e de seus habitantes podemos passar aos símbolos analíticos da água como fonte de fecundação da alma: a ribeira, o rio, o mar representam o curso da existência humana e as flutuações dos desejos e dos sentimentos. Como  no caso da terra, há de se distinguir na simbólica da água a superfície e as profundezas.
Acontece muitas vezes nos sonhos a gente estar sentado à borda da água e pescar. A água, símbolo do espírito ainda inconsciente, encerra o conteúdo da alma, que o pescador se esforça para trazer à superfície, e que deverá alimentá-lo. O peixe é um animal psíquico.
A navegação ou o viajar errádico dos heróis na superfície significa que estão expostos aos perigos da vida, o que o mito simboliza pelos monstros que surgem do fundo. A região submarina se torna símbolo do inconsciente. A perversão se acha figurada pela água misturada à terra (desejo terrestre) ou pela água estagnada que perdeu suas propriedades purificadoras: o limo, a lama, o pântano. A água gelado, o gelo, exprime a estagnação no seu mais alto grau, a ausência de calor na alma, a ausência do sentimento vivificante e criador que é o amor. A água gelada representa a completa estagnação psíquica, a alma morta.
A água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas.

As mulheres acima de 25 anos e, sobretudo, as mães, sentem uma relação particular entre a mulher e a água. Uma vez mais constatamos que os símbolos fundamentais... persistem no coração e na imaginação das pessoas, na mentalidade coletiva. Uma civilização, técnica e industrial, pelas carências e poluições que suscita, pode avivar a necessidade, a angústia, o apetite por significados que falem.

Fontes:
http://www.medicinaindiana.com.br/mrsite/home/default.asp?titulo=Artigo&staticpage=yes&acao=artigo&cod=673
http://en.wikipedia.org/wiki/Rajas
http://en.wikipedia.org/wiki/Gunas
http://en.wikipedia.org/wiki/Tamas
http://www.sattva.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=40&Itemid=2&lang=
http://w3.cultdeadcow.com/cms/2006/11/the-symbolism-o.html
http://nagasquad.wordpress.com/2009/07/07/nagas-aviso-urgente/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yin
http://cladic.wordpress.com/2006/10/09/i-ching-o-abismal-agua/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordalia
http://www.arabesq.com.br/Principal/Islamismo/IslamismoArticle/tabid/175/ArticleID/1114/Default.aspx
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Uraniano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogon
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.projetosonda.com.br/imgs/dogons.jpg&imgrefurl=http://www.projetosonda.com.br/noticias/os_dogons.htm&h=336&w=470&sz=30&tbnid=q1luB5Cabsk6DM:&tbnh=92&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Ddogons%2Bfotos&zoom=1&q=dogons+fotos&usg=__SOeZDJMhaPkf4zpVi0_LweTURKI=&sa=X&ei=GWh2TZ2IL9KRgQe46s3BBQ&ved=0CBoQ9QEwAA
http://www.profeciasnet.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=691:espiral&catid=35:e&Itemid=60
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Urano_%28mitologia%29
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 15-22.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Meu nome é Gal!

Meu nome é Gal. Música composta por Bob Charles e Erasmus Charles, popularmente conhecidos como Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Está no disco de 1969.


Por Amanda Borba.




REPRODUÇÃO

Há 66 anos nasceu, em Salvador, Maria da Graça Costa Penna Burgos, mais conhecida como Gal Costa.

É até tolice comentar que Galzinha é uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. Reza a lenda que Elis Regina certa vez disse que no Brasil só haviam duas cantoras: ela e Gal Costa. Convenhamos, essa declaração é a cara da Elis Regina, né.



Gal Costa ainda com influência da Bossa Nova e do jeito de cantar de João Gilberto. Música de 1967.


Cássia Eller, outra grande cantora em minha opinião, numa entrevista disse o seguinte: "A Bethânia marcou mais pela força da interpretação. Bethânia tem uma força única. A Elis Regina nem se fala. É uma das maiores cantoras que já ouvi na vida. A Gal Costa foi a primeira cantora moderna do Brasil. Com certeza abriu um caminho que, se não fosse ela, a gente estaria meio atrasada na forma de cantar."

E assino embaixo. Muitos estudiosos citam Carmen Miranda como a primeira cantora moderna do Brasil. E de fato foi. Antes dela os cantores eram muito formais e ela apareceu com uma maneira mais leve de cantar. Gal Costa também trouxe outra transformação na forma de cantar das cantoras brasileiras. Até então o estilo mais sentimental e a voz empostada eram as principais características entre as cantoras nacionais. Gal sofreu influências da voz possante de Ângela Maria, dos agudos de Dalva de Oliveira, do jeito intimista de João Gilberto e da forma peculiar de cantar de Janis Joplin. Com tudo isso, o resultado foi uma cantora potente, versátil, mas ao mesmo tempo com uma interpretação graciosa e sofreada.



Postei este video no texto sobre o Grêmio. Posto novamente, pois acho a interpretação desta canção maravilhosa, além da Gal estar linda e tocando violão. É um calmante natural.


Bom, mas não estou aqui para fazer comparações entre cantoras, dizer quem foi melhor, quem foi isso ou aquilo. Aliás, acredito que não existe "a maior cantora brasileira" e sim a maior cantora de cada um. Por algum motivo determinada cantora toca mais o seu âmago, o seu estado de espírito, os seus sentimentos do que outra cantora. No meu caso, a cantora brasileira que mais gosto é Gal Costa.


Uma das canções que mais lembram Gal Costa. Vapor Barato foi escrita por Jards Macalé e Wally Salomão e gravada no disco de 1971. 


A voz exótica de Gal Costa sempre me seduziu desde a infância. Uma voz de cristal, afinada, aguda e inigualável. Tecnicamente ela não perde para ninguém. Sua interpretação contida e sugestiva me encanta, assim como também a diversidade de ritmos presente em seu repertório.


Gal cantando um samba de Ismael Silva. A melhor versão desta canção. Também faz parte do disco de 1971.

Eu adoro a fase sessentista e setentista da Gal Costa. Seus primeiros discos são realmente muito bons. Foi também nos anos 70 que Gal se mostrou mais intérprete do que uma cantora com uma voz potente. Neste período, Gal foi tudo: roqueira, jopliniana, tropicalista, desvairada, brejeira, melancólica.



Gal Costa jopliniana. Música de 1969 e de seu disco mais psicodélico. Quem curte música psicodélica vai adorar. Quem não curte, vale a pena escutar para entender as influências na forma de cantar de Gal Costa no início da carreira.


Nos anos 80, Gal atingiu o auge de sua beleza e preferiu focar o lado técnico de sua voz, desistindo, muitas vezes, de ser intérprete. Mal que também acometeu a minha querida Aretha Franklin. Gal gravou algumas boas canções, mas de modo geral foi uma década perdida, seus discos não tinham o mesmo charme de outrora. Ficou melosa demais. Dos anos 90 pra cá, infelizmente, Gal Costa perdeu o brilho. Não lembra nem de longe os seus melhores momentos.

Mas não quero acabar o post falando da minha desilusão com a Gal nas últimas décadas, mas sim relembrando o que esta mulher fez de melhor. Adoraria colocar 365 videos da minha "bonequinha chululu", mas sei que é impossível e seria cansativo rsrsrs. Fiquem com estes dois últimos videos e apreciem a mais bela voz dentre as cantoras brasileiras.


Se Sônia Braga é a Gabriela de Jorge Amado em carne e osso, Gal é a voz de Gabriela.



Para finalizar, deixo aqui a versão que mais gosto desta canção de Chico Buarque, Folhetim. Não achei um video melhor, mas o importante é a música.