quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dicionário de símbolos


Água






As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes:
1) fonte de vida;
2) meio de purificação;
3) centro de regenerescência.

As águas, massa indiferenciada, representando a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção.

Mergulhar nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se, de novo, num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova: fase passageira de regressão e desintegração, condicionando uma fase progressiva de reintegração (banho, batismo, iniciação).

Na Ásia, a água é a forma substancial da manifestação, a origem da vida e o elemento da regeneração corporal e espiritual, o símbolo da fertilidade, da pureza, da sabedoria, da graça e da virtude.
Fluída, sua tendência é a dissolução; mas, homogênea, é também símbolo da coesão, da coagulação.
Como tal, poderia corresponder à sattva, rajas e tamas, os três gunas. Os três gunas - sattva, rajas e tamas - são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou prakriti.


Sattva é a palavra em sânscrito que significa equilíbrio, verdade, bondade, harmonia, consciência, beleza e pureza, mas, como a água escorre para baixo, para o abismo, sua tendência é o tamas (conceito filosófico de trevas e morte, a menor das três gunas - sânscrito = corda); como se estende na horizontal, sua tendência é aindarajas (sânscrito, é na escola Samkhya de filosofia hindu, o guna responsável pela energia de movimento e preservação. Sustenta e mantém a atividade dos outros dois gunas - sattva e tamas).

A água é a matéria prima, a Prakriti (para os estudiosos vendantes e na Teosofia, é a natureza objetiva e ilusória): Tudo era água, dizem os textos hindus; as vastas águas não tinham margens, diz um texto taoísta.

As Águas, representado a totalidade das possibilidades de manifestação, se dividem em:
1) Águas superiores, que correspondem às possibilidades informais (indeterminadas); e
2) Águas inferiores, que correspondem às possibilidades formais (determinadas).
Nagas.
Dualidade que o Livro de Enoch traduzirá em termos de oposição sexual, e que a iconografia representa frequentemente pela dupla espiral. As águas inferiores estão fechadas num templo de Lhassa (capital do reino do Tibete), dedicado aos reis dos nagas (palavra sânscrita e páli, para uma classe que adora uma divindade que toma a forma de uma grande serpente, o King Cobra, encontrado no hinduísmo e no budismo).


A noção de águas primordiais, de oceano das origens, é quase universal.

Pode ser encontrada até na Polinésia e a maior parte dos povos austro asiáticos situa na água o poder cósmico.

A ela se junta muitas vezes o mito do animal mergulhador, como o javali hindu, que traz um pouco de terra à superfície, embrião que aflora à manifestação formal.

Por ser um dom do céu é um símbolo universal de fertilidade e fecundidade.

A água é também um instrumento de purificação ritual.
Oposta ao fogo, a água é yin (feminino no Tao, cor escura do símbolo Yin-Yang).
Este hexagrama consiste na repetição do trigrama K’an, sendo, portanto, um dos oito hexagramas em que um mesmo trigrama se repete acima e abaixo. K’an significa precipitar-se. Uma linha Yang precipitou-se entre duas linhas Yin e é aprisionada por elas, assim como a água num desfiladeiro. K’an é também o filho do meio. O Receptivo recebeu a linha média do Criativo e assim se formou K’an. Enquanto imagem é a água, a água que vem do alto e que se movimenta na terra em rios e correntezas, dando origem a toda a vida. Aplicado ao homem, representa o coração, a alma aprisionada no corpo, o princípio de luz contido na escuridão, ou seja, a razão. O nome do hexagrama possui ainda o significado adicional de “repetição do perigo”, em virtude da duplicação do trigrama K’an. Assim o hexagrama procura indicar uma situação objetiva à qual é preciso acostumar-se, e não uma atitude subjetiva. Pois o perigo devido a uma atitude subjetiva significa temeridade ou astúcia. Assim sendo, o perigo será simbolizado pelo desfiladeiro, isto é, uma condição na qual o homem se encontrará como a água num desfiladeiro e do qual poderá sair se, assim como a água, mantiver a conduta correta.
Corresponde ao norte, ao frio, à cor negra, ao trigrama k'an, que é o abissal.



Também está ligada ao raio, que é fogo.

Nas tradições judaica e cristã, á agua simboliza a origem da criação.

Fonte de todas as coisas, manifesta o transcendente e deve ser considerada como uma hierofania (manifestação do sagrado).

A água é fonte de vida e de morte, criadora e destruidora (ambivalência comum aos símbolos).
Todo o Antigo Testamento celebra a magnitude da água.

A água se torna o símbolo da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas vezes recusada pelos homens.

Símbolo da vida no Antigo Testamento, a água se tornou, no Novo, símbolo do Espírito (Apocalipse, 21).

A água viva, a água da vida se apresenta como um símbolo cosmogônico (termo que abrange diversas lendas e teorias sobre as origens do universo). E porque ela cura, purifica e rejuvenesse, conduz ao eterno.

Segundo Tertuliano, o Espírito Dvino escolheu a água entre os diversos elementos, pois, ela se mostra, desde a origem, como matéria perfeita, fecunda e singela, totalmente transparente (De baptismo, 3).

Possui, por si mesma, uma virtude purificadora e, por isso, é considerada sagrada e utilizada nas abluções rituais.

Por sua virtude, a água apaga todas as infrações e toda mácula.

A água do batismo lava os pecados e só é conferida uma vez porque faz aceder a um outro estado: o do homem novo.


Essa rejeição do homem velho, ou melhor, essa morte de um momento da história, é comparável a um dilúvio, porque este simboliza uma desaparição, uma destruição: uma era se aniquila, outra surge.

A água, possuidora de uma virtude que purifica, exercerá um poder de salvação.

A água apaga a história, pois restabelece o ser num estado novo.

No curso dos séculos, a Igreja se levantou muitas vezes contra o culto prestado às águas.

Mas os desvios pagãos e a volta das superstições sempre constituíram uma ameaça.

As grandes águas anunciam, na Bíblia, as provações.

O desencadeamento das águas é o símbolo das grandes calamidades.

Assim, a água também comporta um poder maléfico.
A prova de fogo, de Dierec Bouts, o Velho (1415-1475). Ordálio ou ordália é um tipo de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. Também é conhecido como juízo de Deus (judicium Dei, em latim). As práticas mais comuns do ordálio são as que envolvem submeter o acusado a uma prova dolorosa. Se a prova é concluída sem ferimentos ou se as feridas são rapidamente curadas, o acusado é considerado inocente. Na Europa medieval, este tipo de procedimento fundava-se na premissa de que Deus protegeria o inocente, por meio de um milagre que o livraria do mal causado pela prova. Apesar de haver sido amplamente praticado durante a Idade Média na Europa, o ordálio possui raízes mais antigas, em culturas politeistas tão remotas quanto o Código de Hamurábi e o Código de Ur-Nammu, bem como em sociedades tribais animistas, como o julgamento pela ingestão da "água vermelha" (fava-de-calabar) em Serra Leoa. Nas sociedades pré-modernas, o ordálio era um dos três principais meios de prova que habilitavam o juiz a proferir um veredito, juntamente com o juramento e o testemunho. Na Europa, os ordálios em geral consistiam em testar o acusado no fogo ("prova de fogo") ou na água, embora a natureza precisa da prova variasse conforme o lugar e a época. O fogo costumava ser reservado para testar acusados de origem nobre, enquanto que a água era mais usada para os plebeus. A Igreja Católica por meio dos papas condenou sucessivamente o ordálio, por exemplo, Estêvão VI em 887/888, Alexandre II em 1063, e mais prominentemente Inocêncio III no IV Concílio de Latrão em 1215, proibindo que o clero cooperasse com os julgamentos pelo fogo e pela água, substituindo-os pela compurgação (um misto de juramento e testemunho). Mesmo assim, os julgamentos por ordálio escassearam somente no final da Idade Média, em geral substituídos pela confissão mediante tortura, mas a prática caiu em desuso apenas no século XVI nos países menos cristianizados.
Como o fogo, a água pode servir de ordálio. Os objetos nela lançados se julgam, a água não profere senteça.


Símbolo da dualidade do alto e do baixo: água de chuva (pura) - água do mar (salgada).

Símbolo de vida: pura, é criadora e purificadora (Ezequiel,36,25); amarga, produz a maldição (Números, 5,18).

Os rios podem ser correntes benéficas ou dar abrigos a monstros. As águas agitadas significam o mal, a desordem.

No folclore judaico, a separação feita por Deus, quando da criação das águas superiores e infeirores, designa a partilha das águas masculinas e femininas, simbolizando a segurança e a insegurança, o masculino e o feminino, o que se liga a um simbolismo universal.

Nas tradições do Islã, a água simboliza tambem inúmeras realidades.

O Corão designa a água benta que cai do céu como um dos signos divinos. Os Jardins do Paraísotêm arroios de águas vivas e fontes (Corão, 2,25; 88,12; etc).

O próprio homem foi criado de uma água que se difundiu(Corão, 86, 6).

Rumi (poeta, jurista e teólogo muçulmano persa do século XIII) simboliza o Fundamento divino do universo por um oceano, do qual a água é a essência divina. Ela permeia toda a criação e as vagas são criaturas suas.

Um muçulmano realizando um dos passos do Wudu ao lavar o rosto antes da oração.
A prece ritual muculmana - çalat - não pode ser cumprida validamente senão quando o orante se põe em estado de pureza ritual com suas abluções, cujas modalidades constituem objeto de normas minuciosas.


O peixe, lançado na confluência de dois mares, no Surata (sura, surata ou surat é o nome dado a cada capítulo do Corão. São 114 suras, subdivididas em versículos - ayat) da Caverna (Corão 18, v. 61, 63) ressuscita, quando mergulhado na água. Esse simbolismo faz parte de um tema iniciático: o banho na Fonte da Imortalidade. O tema retorna constantemente na tradição mística islâmica, especialmente no Irã. Essa fonte fica situada no país das Trevas (simbolismo que deve ser aproximado do simbolismo do inconsciente, de natureza feminina e yin).

Enfim, a água simboliza a vida:
1) a água da vida,
2) que se descobre nas trevas,
3) e que regenera.

Em todas as outras tradições do mundo, a água desempenha papel primordial, que se articula em torno dos três temas acima, mas com uma insistência particular nas origens.

De um ponto de vista cosmogônico, a água recobre dois complexos simbólicos antitéticos (antíteses), que é preciso não confundir:

1) a água descendente e celeste, a Chuva, é uma semente uraniana ( palavra comum no século dezanove que era utilizada para referir uma pessoa do terceiro sexo - no sentido da época, alguém com "uma psique feminina num corpo masculino", alguém que se sente atraído sexualmente por homens, e que teve, mais tarde, o seu significado aumentado para incluir homossexuais femininas, bem como outras variantes sexuais) que vem fecundar a terra.; masculina, portanto, associada ao fogo do céu.

2) Já a água primeira, a água nascente, que brota da terra e da aurora branca, é feminina: a terra está aqui associada à Lua, como um símbolo de fecundidade completa e acabada, terra grávida, de onde a água sai para que, desencadeada a fecundação, a germinação se faça.
Tanto num caso quanto no outro, o símbolo da água contém o do sangue, que recobre um sentido duplo:
1) o sangue celeste, associado ao Sol e ao fogo;
2) o sangue menstrual, associado à Terra e à Lua.

Através dessas duas oposições, se discerne a dualidade fundamental, luz-trevas.

Entre os astecas, o sangue humano, necessário à regeneração periódica do Sol, se chama chalchiuatl, água preciosa, isto é, o jade verde, o que remete à complementariedade das cores vermelho e verde. A água é o equivalente simbólico do sangue rubro, força interna do verde, porque a água traz em si o germe de vida, correspondente ao vermelho, que faz renascer ciclicamente a terra verde depois da morte hibernal.

Dogon é um povo que habita o Mali e o Burkina Faso. Os dogons do Mali são um povo que vive em uma remota região no interior da África Ocidental - são cerca de 200 mil e a sua maioria vive em aldeias penduradas nas escarpas de Bandiagara, ao leste do Rio Níger. Ainda não podem ser qualificados como "primitivos", pois possuem um estilo de vida muito complexo, e não são excelentes candidatos a possuir conhecimentos científicos. Contudo, possuem um conhecimento muito preciso do sistema estelar de Sirius[1] (incluindo pelo menos uma estrela que ainda não foi identificada pelos astrônomos) e dos seus períodos orbitais. Os sacerdotes dogons dizem que sabem desses detalhes, que aparentemente são transmitidos oralmente e de forma secreta, séculos antes dos astrônomos.
A água, semente (esperma) divina, de cor verde, fecunda a terra para dar aos Heróis, os Gêmeos, na cosmogonia dos dogons. Esses gêmeos vêm ao mundo, homens até os rins e serpentes daí para baixo, da cor verde.Para os dogons e seus vizinhos bambaras a água - ou o sêmen divino - é também a luz, a palavra, o verbo gerador, cujo principal avatar ( manifestação corporal de um ser imortal segundo a religião hindu, por vezes até o Ser Supremo) mítico é a espiral de cobre vermelho.


O glifo solar dos dogons e dos bambaras é revela­dor: é feito de um pote (matriz original) envolto por uma espiral de cobre vermelho de três voltas (símbolo da masculinidade); esta representa o verbo original, a primei­ra palavra do Deus Amma, i.e., o espírito, sêmen de divindade.
Entretanto, água e palavra não se fazem ato e manifestação, acarretando a criação do mundo, senão sob a forma de palavra úmida, à qual se opõe uma metade gêmea, que permanece fora do ciclo da vida manifestada, chamada pelos dogons e pelos bambaras de água seca e palavra seca, que exprimem o pensamento, a potencialidade, tanto no plano humano quanto no plano divino.

Toda água era seca, antes que se formasse o ovo cósmico, no interior do qual nasceu o princípio de umidade, base da gênese no mundo. Mas o Deus supremo uraniano, Amma, quando criou seu duplo, Nommo, Deus de água úmida, guia e princípio da vida manifestada, conservou com relação a ele, nos céus superiores, fora dos limites que deu ao universo, a metade de suas águas primeiras, que permanecem como águas secas.

Da mesma forma, a palavra que não se expressa, o pensamento, é dita palavra seca. Não tem senão valor potencial, não pode engendrar. No microcosmo humano, ela é a replica do pensamento primordial, a primeira palavra que foi roubada a Amma pelo gênio Yurugu, antes do advento dos homens atuais.

Para D. Zahan, essa palavra primeira, palavra indiferente, sem consciência de si mesma, corresponde ao inconsciente; é a palavra do sonho, aquela sobre a qual os humanos não têm poder.

O chacal, ou a raposa pálida, avatar de Yurugu, tendo furtado a primeira palavra, possui a chave do inconsciente, do invisível, e, em consequência, do futuro, que não é senão o componente temporal do invisível. Essa a razão pela qual o mais importante sistema divinatório dos dogons está fundado na interrogação desse animal.
Yurugu é o selvagem deus do caos e pai de inúmeros espíritos malígnos das matas do povo Dogon (Sudão e Mali). Ele é fruto do estupro da Mãe-Terra por Amma, deus do céu e das chuvas. Yurugu também estuprou sua mãe e, deste ato impuro, a terra tornou-se infértil (simbolismo para a menstruação feminina). Acreditando que sua irmã Yasigi estava escondida dentro do ovo cósmico de Amma, Yurugu roubou sua gema. No entanto, Amma havia deixado-a com os gêmeos Nommo para impedir as tentativas incestuosas do deus. Frustrado, Yurugu jogou fora a gema cósmica e ela se transformou numa Terra poeirenta e amarelada. Para salvar o planeta, Amma matou um dos gêmeos Nommo e espalhou seus pedaços para criar vida. Após isso, Yurugu foi banido por Amma para o deserto seco que criou. Costumava aparecer para o povo dogon (Sudão e Mali) como um chacal ou uma pálida raposa (é confundido com Ogo), levando discórdia e desordem. Pode ter ligações com o Anúbis egípcio.
Yurugu está igualmente associado ao fogo ctoniano (diz-se, em Mitologia, dos deuses que residem nas cavidades da terra) e à Lua, que são universalmente símbolos do inconsciente.

A divisão fundamental de todos os fenômenos em duas categorias, regidas pelos símbolos antagonistas da água e do fogo, do úmido e do seco, encontra uma notável ilustração nas práticas funerárias dos astecas.

Essas mesmas relações da água e do fogo se encontram nos ritos funeráreos dos celtas.

Em todos os textos irlandeses, a água é um elemento submetido aos druidas, que tem o poder de ligar e desligar. Os maus druidas do rei Cormac (rei e bispo de Munster - província irlandesa - de 902 até sua morte - 908)também ligaram os do Munster, para submeter os habitantes pela sede, e foi o druida Mog Ruith (figura da mitologia irlandesa, um druida poderoso e cego de Munster) que os desligou. Mas a água é também um símbolo de pureza passiva. Ela é um meio e um lugar de revelação para os poetas que lhe põem sortilégios a fim de obter profecias. Segundo Estrabão ( 63 a.C. ou 64 a.C. - cerca 24 d.C, foi um historiador, geógrafo e filósofo grego, autor da monumental Geographia, um tratado de 17 livros contendo a história e descrições de povos e locais de todo o mundo que lhe era conhecido à época), os druidas afirmavam que, no fim do mundo, reinariam apenas a água e o fogo (elementos primoridiais).

Na mitologia nórdica, Ymir, também chamado Aurgelmir, foi o fundador da raça de gigantes de gelo e uma figura importante na cosmologia nórdica. Gigante de gelo, foi morto por Borrs.
Entre os germanos, são as águas, correndo pela primeira vez na primavera à superfície dos gelos eternos que constituem a origem ancestral da vida, pois que, vivificadas pelo ar do sul, elas se juntam para formar um corpo vivo, o do primeiro gigante Ymir, do qual procedem os demais gigantes, os homens, e, até certo ponto, os próprios deuses.

A água-plasma, feminina, a água doce, a água dos lagos, a água estagnada e a do oceano, escumante, fecundante, maculina, são cuidadosamente diferenciadas na Teogonia de Hesíodo (poeta da Grécia Antiga):

1) a terra engendra, em primeiro lugar, sem gozar prazer com isso, Ponto, o mar estéril;

2) depois, unindo-se a seu filho Urano (deus grego que personificava o céu. Foi gerado espontaneamente por Gaia - a Terra - e casou-se com sua mãe), ela dá o oceano de abismos imensos: a Terra gerou o mar infecundo, com suas tumefações furiosas. Demasias de águas, sem a ajuda do terno amor. Mas depois dos embates com o Céu ela gerou Oceano, o dos turbilhões profundos(Hesíodo, Teogonia, 130-135);

3) a distinção entre a água estéril e a água fecundante está unida, à intervenção do amor.

A água estagnante, plasma da terra de onde nasce a vida, aparece em numerosos mitos de criação. Uma crista de limo emergindo das águas é a imagem mais frequente da criação nas mitologias egípcias.Um grande lótus saído das águas primordiais, tal foi o berço do Sol na primeira manhã.

A valorização feminina, sensual e maternal, da água foi cantada pelos poetas românticos alemães. É a água do lago, noturna, leitosa e lunar, onde a libido desperta.

Dos símbolos antigos da água como fonte de fecundação da terra e de seus habitantes podemos passar aos símbolos analíticos da água como fonte de fecundação da alma: a ribeira, o rio, o mar representam o curso da existência humana e as flutuações dos desejos e dos sentimentos. Como  no caso da terra, há de se distinguir na simbólica da água a superfície e as profundezas.
Acontece muitas vezes nos sonhos a gente estar sentado à borda da água e pescar. A água, símbolo do espírito ainda inconsciente, encerra o conteúdo da alma, que o pescador se esforça para trazer à superfície, e que deverá alimentá-lo. O peixe é um animal psíquico.
A navegação ou o viajar errádico dos heróis na superfície significa que estão expostos aos perigos da vida, o que o mito simboliza pelos monstros que surgem do fundo. A região submarina se torna símbolo do inconsciente. A perversão se acha figurada pela água misturada à terra (desejo terrestre) ou pela água estagnada que perdeu suas propriedades purificadoras: o limo, a lama, o pântano. A água gelado, o gelo, exprime a estagnação no seu mais alto grau, a ausência de calor na alma, a ausência do sentimento vivificante e criador que é o amor. A água gelada representa a completa estagnação psíquica, a alma morta.
A água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas.

As mulheres acima de 25 anos e, sobretudo, as mães, sentem uma relação particular entre a mulher e a água. Uma vez mais constatamos que os símbolos fundamentais... persistem no coração e na imaginação das pessoas, na mentalidade coletiva. Uma civilização, técnica e industrial, pelas carências e poluições que suscita, pode avivar a necessidade, a angústia, o apetite por significados que falem.

Fontes:
http://www.medicinaindiana.com.br/mrsite/home/default.asp?titulo=Artigo&staticpage=yes&acao=artigo&cod=673
http://en.wikipedia.org/wiki/Rajas
http://en.wikipedia.org/wiki/Gunas
http://en.wikipedia.org/wiki/Tamas
http://www.sattva.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=40&Itemid=2&lang=
http://w3.cultdeadcow.com/cms/2006/11/the-symbolism-o.html
http://nagasquad.wordpress.com/2009/07/07/nagas-aviso-urgente/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yin
http://cladic.wordpress.com/2006/10/09/i-ching-o-abismal-agua/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordalia
http://www.arabesq.com.br/Principal/Islamismo/IslamismoArticle/tabid/175/ArticleID/1114/Default.aspx
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Uraniano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogon
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.projetosonda.com.br/imgs/dogons.jpg&imgrefurl=http://www.projetosonda.com.br/noticias/os_dogons.htm&h=336&w=470&sz=30&tbnid=q1luB5Cabsk6DM:&tbnh=92&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Ddogons%2Bfotos&zoom=1&q=dogons+fotos&usg=__SOeZDJMhaPkf4zpVi0_LweTURKI=&sa=X&ei=GWh2TZ2IL9KRgQe46s3BBQ&ved=0CBoQ9QEwAA
http://www.profeciasnet.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=691:espiral&catid=35:e&Itemid=60
http://mitographos.blogspot.com/2010/08/yurugu.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Cormac_mac_Cuilenn%C3%A1in
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrabão
http://pt.wikipedia.org/wiki/Urano_%28mitologia%29
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 15-22.

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