segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal e espírito natalino: Pra quê tudo isso?

REPRODUÇÃO


Por Amanda Borba.


Mais um ano se vai e de novo chega o Natal. E mais uma vez as opiniões sobre a festa se dividem. Talvez nem tanto assim, mas existe quem não goste da data. 

Todo ano repetimos a mesma ladainha do Natal: "Feliz Natal, que você tenha muita saúde, muito dinheiro, muita paz, muita alegria e que o próximo ano seja muito próspero."

Entendo quem não gosta da festa. Assim como as outras datas, o Natal é mais uma época de grande consumismo, as pessoas se entopem de dividas e é mais uma data perfeita para o comércio, o que faz perder um pouco do sentido original da data. E aí a gente se pergunta: Pra quê tudo isso? 

Também concordo quando dizem que as pessoas agem com hipocrisia nesta época, querem ser "boas" somente no Natal, enquanto na maior parte do ano não o são. Falam coisas boas, mas durante todo o ano não seguem o que a boca fala. E aí a gente se pergunta novamente: Pra quê tudo isso?

Outros dirão: Poxa vida Amanda, 25 de dezembro tem origem em comemorações pagãs. O Natal é uma farsa. A data foi escolhida pelo fato de acontecer o solstício de inverno no hemisfério norte e o solstício de verão no hemisfério sul. E mais uma vez nos perguntamos: Pra quê tudo isso?

Respondendo a última pergunta eu penso o seguinte: todas as religiões herdam elementos de religiões anteriores. Não existe farsa. O Cristianismo popular que cultua santos é exatamente como o paganismo politeísta da Roma antiga ou da Grécia clássica. Santos são como os deuses. E assim é porque além da religião da Igreja, existe a que importa: a do povo, que cria os seus cultos: Maria é a nova forma da Deusa Mãe. Portanto, as datas vão sendo apropriadas por cada época. 

Mas vão dizer: o povo não entende isso, Amanda. Eu respondo: Ah, entende sim. Quem não entende são os esclarecidos que vieram tirar o povo das trevas da ignorância e,que alardeiam a falsidade num discurso anti-cristianismo que não faz sentido, já que toda tradição mistica herda elementos de uma anterior. Sinceramente, não passam de uns chatos.

Embora, eu concorde com todas as críticas, o Natal sempre foi a data comemorativa que mais gostei. Sempre fico mais sensibilizada nesta época. As minhas melhores lembranças vem desta época do ano. Lembro muito do meu pai ganhando cesta de natal do trabalho, do sabor das nozes, do gostinho do panetone, de como a mesa ficava farta, dos belos enfeites de natal (ah, como eu adoro a combinação dourado, verde e vermelho!) e de como as pessoas ficam mais gentis. Talvez o outro motivo que me faça gostar do Natal seja o fato do meu aniversário ser próximo desta data. 

Mas não devemos esquecer que somos humanos, nunca seremos perfeitos e estamos aqui para evoluir e isso a gente somente alcançará através da nossa experiência. Dito isto, destaco aqui uma das frases mais controversas de Jesus e que diz muito sobre as nossas divergências de ideologias: "Não vim para trazer a paz, mas a espada". Mesmo as coisas que deveriam ser "teoricamente boas" não serão aceitas pacificamente. Isso exigirá muita luta. Infelizmente.

Entretanto, eu vejo muitas coisas positivas no Natal. Acho que é uma data necessária para nos fazer refletir (ou pelo menos tentar) sobre o que fizemos até então. É nesta época que preferimos evitar conflitos e nos calamos em alguns momentos para não magoar alguém. Quantas vezes a gente não pensou: "Deixa pra lá, é natal". 

É justamente neste momento que devemos aprender e desta forma nos transformar e assim levar o tal "espírito natalino" para todos os outros meses do ano e não somente em dezembro. 

Mesmo aqueles que não comemoram ou que possuem outra religião ou mesmo que não tenham nenhuma crença darão um significado próprio a data. E independentemente destes significados, tenho certeza que a reflexão acontecerá.

E é isso. Deixo abaixo algumas canções natalinas que gosto muito. Feliz Natal pessoal! =)




Otis Redding - Merry Christmas, baby. Tudo o que ele canta é comovente.



Novos Baianos e a melhor versão da melhor canção natalina brasileira (e a mais triste também), escrita por Assis Valente 


John Lennon - Happy Christmas (War is over) - A canção que mais me emociona.  


domingo, 7 de outubro de 2012

Eu sou brega e daí?

Por Amanda Borba.



Na semana retrasada acabou a novela das sete, “Cheias de Charme”. Sim, caros leitores, eu sou noveleira de carteirinha, adoro um dramalhão! Pois bem, a música de abertura da novela me chamou atenção, pois revelava o clima “brega” que a história do folhetim revelava. Inclusive me lembrou o filme brasileiro chamado “Domésticas” e que a trilha sonora era baseada em músicas de cantores considerados “bregas”. A partir disso surgiram duas perguntas: o que é música brega e o que é ser brega?

Eu e um grupo de amigas nos autodenominamos como “Bonde das bregas”, pois nos simpatizamos com alguns artistas considerados cafonas e de mau gosto.  Tanto que nosso sangue ferve pelo Sidney Magal, nosso muso supremo. Mas nossa breguice vai além de uma simples simpatia. É emocional.


Magal é muso!


Muita gente não admite, mas lá nas profundezas de seu ser mora um brega. E tenho certeza que muita gente escuta escondido, principalmente nos “dias de dor de cotovelo” aquelas canções bregas internacionais (sim, existem várias!) ou os tradicionais bregas do nosso cancioneiro popular.


"All by myself" interpretada por Eric Carmem é um clássico do brega internacional.


No dicionário a palavra brega significa “cafona”, “de mau gosto” ou “de qualidade inferior”. Mas para quem se considera brega, a palavra possui outros significados. Os bregas são afetivos, impulsivos e gentis, experimentam e vivenciam a emoção de maneira diferente dos admiradores de outros gêneros musicais. Sua emotividade é irreprimível, transbordante e se renova quando se encontra no universo da música brega. No entanto, o que é música brega?

O momento atual no qual vivemos é caracterizado pelo seu dinamismo, pela natureza mestiça, volúvel, efêmera e principalmente pela diversidade cultural e pelas trocas que se dão a nível global. A música brega não contem características suficientemente claras ao ponto de podermos definir com segurança que determinado cantor ou banda é brega justamente por apresentar a mesma pluralidade.

Geralmente dizemos que alguma música é brega quando percebemos que a letra é romântica e com rimas fáceis como “céu e mel”, “amor e dor”, “viver e sofrer”, além de arranjos não sofisticados. Segundo as elites intelectual e socioeconômica e os adeptos da MPB, a balada brega é a música mais ordinária, óbvia e sentimental possível. Uma cafonice sentimentalóide e alienante. Entretanto, o mundo brega se apropriou de tantas culturas musicais diferentes que muitas vezes se confunde com outros gêneros como sertanejo e forró eletrônico (seja lá o que for isso). Por exemplo, para os “intelectuais” o repertório de Leandro e Leonardo é considerado música brega. Para as camadas mais baixas, Leandro e Leonardo representavam a música sertaneja. Para muita gente a banda Calypso é considerada brega, embora misturem calipso com carimbó, forró, merengue e lambada. Enfim, se é brega ou outro tipo de música ninguém sabe ao certo. Portanto a definição da música brega é inconclusa.


Uma das minha preferidas no karaokê!! hahahaha


Para entender o motivo de a música brega ser considerada de mau gosto é preciso entender que existem pesquisas no campo da sociologia que problematiza o nosso gosto como condicionado socialmente. Dependendo das condições culturais e sociais em que pertencemos nosso gosto será construído. O gosto une e separa setores sociais, sendo também responsável pela formação de divergências dentro do campo de consumo.

Segundo algumas pesquisas, a classificação musical foi determinada pelos acadêmicos dos anos 60 com seu discurso idealista, nacional-popular que tinham como grande missão despertar no povo a consciência necessária para a superação dos conflitos internos no âmbito social. Nesta mesma década surgiu o movimento musical Jovem Guarda atacada pelos puristas que não queriam influências externas na música nacional. Para a elite acadêmica qualquer forma de arte que estivesse desvinculada com a militância política era considerado alienante e alienado. Por exemplo, para a direita brasileira Roberto Carlos era o inimigo dos bons costumes, para a esquerda era um alienado, “cantor da ditadura”, e para os puristas um traidor da identidade e da tradição musical nacional.


Todo mundo sabe que me amarro no Robertão e não acho que tudo o que ele fez é brega. Roberto Carlos é amor no coração! 


Porém a grande maioria dos brasileiros não vivenciou com tanta proximidade o nefasto momento político e tampouco estava interessado na tradição da canção popular ou folclórica brasileira. Os impulsos populares esfolaram a sensibilidade da intelectualidade hegemônica. As classes populares não se identificavam com letras como “vem, vamos embora que esperar não é saber / quem sabe faz a hora / não espera acontecer”, ou “é preciso estar atento e forte / não temos tempo de temer a morte”. O povão queria escutar músicas que falavam de seus sentimentos. Assim como o rock que nos anos 50 sacudiu a sociedade americana através de canções ingênuas, mas que se converteu em sinônimo de rebeldia, a Jovem Guarda alcançou destaque na sociedade brasileira por meio de seu romantismo juvenil.

Quero deixar claro que citei a Jovem Guarda pelo simples fato de ter sido um movimento importantíssimo dentro do nosso cenário musical. Do “iê-iê-iê” surgiram várias vertentes musicais, ou seja, cantores mais voltados à música pop e outros mais próximos do romantismo, incluindo a música brega. Obviamente que os primórdios da música brega são anteriores e podemos identifica-los no samba-canção, na dor-de-cotovelo e até mesmo em cantores românticos como Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Lupicínio Rodrigues que foram inspiração de diversos cantores bregas como Waldick Soriano, por exemplo.


Um pouco de Waldick Soriano no melhor estilo mariachi ranchero.


É importante notar a origem social dos músicos “bregas”. A maioria provém das camadas mais populares, já tendo exercido profissões de baixa qualificação e remuneração ou mesmo são pessoas com deficiência física, o que proporciona uma identificação e uma fonte de sensibilidade.


Bregão do anos 70. A música fala sobre uma moça na cadeira de rodas.


A elite intelectual hierarquizou o nosso gosto. Essa intelectualidade dominante ocupa espaços na imprensa, na mídia, na produção musical e no mercado editorial. Ela nos diz o que é bom e o que não é. Criou os estereótipos musicais. Música popular brasileira de bom gosto é o samba, o choro e a bossa nova. Bom mesmo são os tradicionais compositores Noel Rosa, Pixinguinha e Jackson do Pandeiro. Bom gosto mesmo são os modernos e geniais cantores/compositores Chico Buarque, Caetano Veloso e Tom Jobim. O resto é música tosca, vulgar, mal estruturada e sem refinamento estético. A música brega não é tradicional e tão pouco original. Ela é desprezada pelas elites ou por quem se acha intelectual e muitas vezes é atacada preconceituosamente.

Não acho que os ícones da MPB tenham culpa, mas aceitam de bom grado ficar do lado dominante da história. Essa depreciação a tudo o que foge das "listas dos melhores da música popular brasileira" construída pela elite intelectual causam desconforto e desestabilizam essa hegemonia. São consideradas infrações que colocam em dúvida toda a canonização da nossa música. Entretanto, os mesmos ameaçados podem rever seus próprios estereótipos. Basta ver a lista de cantores da “MPB” que gravaram música brega. Caetano Veloso gravou Peninha. Adriana Calcanhoto gravou Lilian. Odair José, conhecido como “cantor das empregadas” e “Bob Dylan da Central”, ganhou até um tributo, sendo rememorado por cantores contemplados pela elite intelectual, como Paulo Miklos, Zeca Baleiro, Pato Fu, entre outros. De brega, virou cult. “Amor I love you” de Marisa Monte é totalmente brega. Nestes casos, fica claro que é o intérprete que atribui o status de brega ou não àquela música.


O leonino Odair José é o mais injustiçado dos cronistas populares, mas, talvez, o mais talentoso. 


Marisa Monte ultimamente está muito brega. E essa música gruda na cabeça igual chiclete!


Considero-me uma pessoa eclética musicalmente. Adoro rock, samba, mpb, soul, funk americano, blues, jazz, choro, ritmos latinos, baladas românticas, músicas contestadoras e de protesto. Não gosto de vários gêneros, até porque ninguém é obrigado a gostar de tudo. Também não quero que quem leu este post ache que a música brega não existe ou que é uma maravilha genial e que deve ser apreciada. Este texto é apenas para explicar que igualmente como a nossa sociedade é dividida em classes, a música também é hierarquizada. A música brega, assim outros gêneros, é classificada como inferior, está na base da pirâmide, justamente por ser destaque do patrimônio afetivo de uma parcela significativa das camadas populares.

Ser brega não depende de classe social ou nível intelectual, depende só e tão somente, de sensibilidade. Os bregas são tolerantes com os outros. Os bregas sofrem, amam e odeiam. Enfim, são humanos. E por isso eu sempre digo, sou brega sim e daí?

domingo, 13 de maio de 2012

O sennismo é um saco

REPRODUÇÃO


Por Amanda Borba.


Neste domingo de Dia das Mães, navegando na internet, vi esta imagem compartilhada no facebook de um amigo. Até aí nenhuma novidade, cada um compartilha o que quiser. E quem lê o blog, sabe que não sou admiradora do Senna, mas mesmo assim o considero o maior ídolo esportivo do país, por todas as circunstâncias que expliquei neste post (http://psicoisinhas.blogspot.com.br/2012/03/o-mito-ayrton-senna-do-brasil.html). Entretanto, eu fiquei pensando: será mesmo muito bem sucedido um cara que buscando esse "último limite", o "melhor de si", mas que morreu esmagado num muro de concreto com 30 e poucos anos de idade?

Está certo que o mesmo carro que deu dinheiro, fama, Galisteus e Xuxas, também foi quem tirou o que o Senna tinha de mais importante: a vida. E o pior de tudo: no auge.

Estou dizendo essas coisas porque discordo completamente desse emblema sennista de que o ser humano deve buscar todos os seus limites, de se superar e buscar sempre o máximo do máximo. Histórias de superação as vezes me causam tédio. Claro que a gente não deve ser acomodado, bunda-mole e fraco, mas essa neura de ter que ser sempre "o melhor", de querer provar a todo o tempo e a todo mundo não só que é bom, mas que é o "melhor dos melhores", o "campeão dos campeões", acho péssimo. E usar o Senna como exemplo de êxito, acho o cúmulo. Uma vida interrompida no auge e em decorrência de um desastre provocado pelo seu ímpeto descontrolado de ser o bonzão e o vencedor, ao meu ver, não pode ser considerada um exemplo de sucesso. 













terça-feira, 1 de maio de 2012

O Dia em que o Let's Rock parou!



Por Amanda Borba.

O rock é o estilo musical com um passado riquíssimo. Em São Paulo está acontecendo o Let’s Rock, a maior exposição sobre a história do gênero já feita na América Latina. A exposição faz um mergulho nesse universo através de roupas, fotos, instrumentos, discos e todo o tipo de memorabília dos principais astros do rock mundial. No feriado de 21 de abril, eu e alguns amigos do trabalho fomos conferir essa mostra no Parque do Ibirapuera.

Da esquerda para a direita: Kleber trabalha no Departamento Financeiro e é o “Johnny Cash” do quarteto, o nosso “homem de preto”.  Jhones (que já possui nome de rock star) é web designer e é popularmente conhecido como “Do Mal”. Bruna trabalha comigo no RH e ela é a nossa jovem e delicada deusa Perséfone. E finalmente eu, a pessoa mais avacalhada e caótica deste quarteto, além de colaboradora deste humilde blog.

Chegamos à Oca do Ibirapuera por volta das 11h30min. Logo na entrada fomos contemplados com algumas frases de personalidades do rock. Passamos por um túnel do tempo onde pudemos observar os principais fatos e a transformação do rock ao longo das décadas. 

Em seguida conhecemos um ambiente repleto de guitarras e violões onde brincamos de ser estrelas do rock. Em outro espaço vimos diversas capas históricas da revista Rolling Stone e tiramos fotos ao lado de roqueiros como Raul Seixas, Jimmy Page, John Lennon e vários outros.

Caminhando e cantando, subimos uma rampa e fomos até o ponto mais alto da Oca onde deitamos em colchonetes e escutamos nos fones de ouvido trechos de algumas canções famosas. Também apreciamos imagens projetadas no teto contendo os melhores momentos de bandas famosas.

De lá fomos para o lugar mais legal da exposição. Neste ambiente ficavam vários armários com objetos de colecionadores dos principais cantores e bandas de rock. Entretanto, confesso que me decepcionei com os armários do Raul Seixas e dos Beatles. Achei um pouco pobre. Também fiquei chateada por não encontrar nada do Carlos Santana, o maior expoente do rock latino-americano.

Bom, finalmente chegamos às gigantescas fotografias de Bob Gruen, principal fotógrafo do rock. Ao mesmo tempo entramos em pequenas salas divididas por décadas. Dentro destas salas acontecia uma mistura de luzes coloridas, tocavam-se músicas, além dos murais serem constituídos por fotos e imagens de roqueiros de cada época. Particularmente, adoramos a sala dos anos 60 e cantamos com Roberto Carlos a música “Eu te darei o céu”. Em seguida curtimos “Time is on my side” dos Rolling Stones. 

No final do nosso passeio paramos em frente a um latão enorme com quatro fones de ouvido. Do outro lado estava sendo projetada na parede a imagem de uma apresentação ao vivo de uma banda pouco conhecida (graças ao Kleber descobrimos que se tratava do Talking Heads).



Começamos a escutar aquele som maravilhoso, com uma loira arrebentando no baixo. A banda misturava alguns elementos de sons africanos com rock e funk. É uma miscelânea tão boa que você acha que a música está indo para um lado, mas aí o baixo e a bateria mostram outro lado totalmente diferente. O som era tão estupidamente delirante que começamos a imitar os passos dos componentes da banda fazendo com que muitas pessoas prestassem atenção em nós, os únicos a dar bola para aqueles pobres latões com fones. O momento mais engraçado foi quando uma moça chegou sorrindo, achando graça da nossa dança e resolveu escutar a banda. Imediatamente ela começou a dançar também. Rimos demais.

Mas foi isso. Neste post falei só um pouco do que vimos. Ao vivo é muito melhor. Vale a pena conferir. Por isso aproveitem, pois a exposição ficará até o dia 27 de maio. Vejam as fotos:

Raulzito. O baiano mais porreta que já existiu.
Meus adorados e idolatrados "Bitols".


Ternurinha do Chuck

Túnel do tempo do rock

Guitarra do Jimmy Page

Guitarra do B.B. King

Boneco do Freddie Mercury




A maior preciosidade da exposição. Violão de Elvis Presley.








sábado, 7 de abril de 2012

29 anos sem Clara Nunes: A deusa dos orixás


REPRODUÇÃO




Por Amanda Borba.

No dia 02 de abril de 1983, na madrugada de Sábado de Aleluia, nossa música perdeu uma das suas maiores intérpretes e, talvez, a principal cantora popular brasileira. Clara Nunes tinha 39 anos de idade quando morreu vítima de um choque anafilático e lutou pela vida durante vinte e oito dias até o seu sofrimento final.

Jamais entendi porque muitos especialistas em música não dão muito valor a sua obra, diferentemente de outras grandes cantoras nacionais que são exaltadas ao extremo. Acredito que o fato de ter sua imagem ligada às religiões afro-brasileiras seja um dos motivos.

Desde que me conheço por gente que escuto a seguinte frase: “Clara Nunes cantava muito, mas suas músicas eram de terreiro, podia ter gravado canções melhores”. Creio que o preconceito existente com as religiões afro-brasileiras impede que as pessoas enxerguem a riqueza de sua obra musical.

Há quatro anos conheci a obra de Clara Nunes. A “Tal Mineira” possuía uma das vozes mais lindas de que se tem notícia e, em minha opinião, ao lado de Maria Bethânia, foi uma das melhores intérpretes da nossa música, sendo a que melhor cantou samba, música brasileira por excelência.

Desde a morte de Carmen Miranda, Clara Nunes foi a artista que mais construiu sua carreira baseada numa imagem afro-brasileira aproximando-se de escolas de samba e de seus compositores diferenciando-se de outras cantoras contemporâneas como Elis Regina, Maria Bethânia e Gal Costa. Inclusive, foi a primeira cantora que quebrou o tabu de que "cantoras não vendem discos". Entretanto sempre declarou que seu intuito não era apenas vender discos ou ser uma sambista, mas sim uma “cantora popular brasileira”, tanto que gravou diversos ritmos como forró, marcha-rancho, samba-canção, bossa-nova, frevo e músicas folclóricas.


"Você passa e eu acho graça" de Ataulfo Alves e Carlos Imperial

Em 1966, Clara gravou seu primeiro disco, dedicado principalmente a boleros, sendo este um fracasso total. A gravadora Odeon fez Clara gravar múltiplos gêneros musicais como boleros, músicas românticas, jovem-guarda, até que em 1968, com a ajuda de Ataulfo Alves, conseguiu gravar samba, conquistando certo sucesso com a música “Você passa e eu acho graça”.

Contudo o divisor de águas tanto na carreira quanto na vida espiritual foi uma viagem à África no início dos anos 70. Ela voltou transformada e extasiada com a experiência. Na volta, Clara Nunes elaborou uma nova proposta de carreira dando início a sua consolidação artística fortemente marcada por um estilo e imagem que aproximou a cantora do samba e da umbanda, sendo rotulada de forma pejorativa como “sambista, cantora de macumba”.


"Clarice" de Caetano Veloso e Capinan.

A carreira de Clara Nunes pode ser dividida em três fases diferentes. A primeira fase foi marcada por um espaço no mercado fonográfico que, inicialmente, tentou transformá-la num “Altemar Dutra de saias”, ou seja, numa cantora de boleros. A segunda fase se caracterizou pela descoberta da África e da umbanda, transmitindo um novo estilo à sua imagem artística. A terceira fase diz respeito ao seu desejo de ser uma cantora popular brasileira colocando no centro de sua obra a ideia de mestiçagem na identidade nacional e como as religiões afro-brasileiras se fixaram na cultura popular.

Clara construiu sua imagem de “Guerreira” graças a sua fama de lutadora (ficou órfã cedo e tentou inúmeras vezes, sem sucesso, engravidar) e seu envolvimento pessoal com o candomblé e a umbanda, sendo que seus orixás de cabeça, Ogum e Iansã, são considerados santos guerreiros. Clarinha tornou público o uso de pulseiras, guias, danças de orixás, gestos, posturas corporais e até mesmo tabus alimentícios e outras informações que despertavam a curiosidade das pessoas.


"Guerreira" de João Nogueira e Paulo César Pinheiro.

Durante o período da ditadura militar, as canções possuíam um caráter politico e protestavam contra o governo, sendo este um momento de total ausência de aspectos do Brasil nas canções. Por outro lado, a “Guerreira” pautou sua trilha na finalidade de divulgar o que ela considerava como a legítima cultura brasileira. Clara era uma estudiosa da cultura popular brasileira, de seus ritmos e de suas manifestações e graças a isso fez o candomblé e a umbanda chegarem a um público mais amplo e de uma maneira positiva, sem folclorizá-las, apresentando o lado alegre, vibrante, majestoso, mágico e hedonista dessas religiões, além de cantar diversos pontos de umbanda e adaptá-los aos parâmetros da indústria musical.

De certo, sabe-se que Clara não era compositora (escreveu uma ou outra composição), sua grande habilidade era interpretar as canções alheias. Como dito anteriormente, Clara foi uma das melhores intérpretes brasileiras, pois a interpretação que dava as músicas era tão marcante e com tanta intensidade emocional que estabeleceu uma profunda identificação com as músicas que gravava, tanto que a grande massa as classificava como “músicas de Clara”. Como dito por Chico Buarque, Clara transformava a canção.


"Morena de Angola" de Chico Buarque.

O repertório de Clara Nunes permite pensar na diversidade mestiça da cultura brasileira, da mistura das três raças – índios, negros e brancos – afirmando nessa mestiçagem a presença africana em nossa cultura, mas sem negar o conflito presente nas relações sociais. Isso pode ser identificado em canções como “Canto das Três Raças”, “Nação”, “Jogo de Angola” e “Tributo aos Orixás”.

Clara nasceu católica, conheceu o espiritismo kardecista, tornou-se umbandista e demonstrou em muitos momentos a ambiguidade típica do povo-de-santo, transitando entre as religiões anteriores. Seu casamento, por exemplo, foi celebrado por um padre. Esse sincretismo religioso tão popular no Brasil e que fez parte da experiência religiosa da cantora aparece explicitamente na música “Guerreira”.


"Conto de areia" de Romildo e Toninho. Um ponto de umbanda estilizado.

Sua morte gerou uma série de especulações, inclusive religiosas. O fato é que a morte de Clara Nunes no auge da carreira foi o suficiente para torná-la a “deusa dos orixás”. Como sua imagem era fortemente ligada à religião, muitos fãs e amigos realizaram diversos rituais e tratamentos alternativos buscando sua recuperação. Até hoje existem casos de pessoas que afirmam terem sido curadas por Clara Nunes! É impressionante perceber como é importante essa presença da experiência religiosa de Clara Nunes na vida de seus fãs e admiradores. Nas comunidades de Clara Nunes no Orkut, por exemplo, utilizam saudações típicas e esclarecimentos sobre o que é a umbanda e o candomblé.

Pra mim, Clara tinha uma beleza incrível e isso pode ser conferida nos inúmeros clipes que existem no youtube. Uma beleza exótica, brejeira, autêntica, natural e simples. Sua voz é firme e quente e sempre tenho a impressão de que ela está saboreando as palavras. Nossa língua portuguesa fica ainda mais bonita cantada por Clara Nunes. A “Tal Mineira” é a Rainha do Samba e melhor que ela ainda está para nascer!

Salve Clara Guerreira!


"Canto das Três Raças" de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Mito Ayrton Senna do Brasil

REPRODUÇÃO


Por Amanda Borba.


Se estivesse vivo, ontem o maior ídolo esportivo brasileiro ao longo da história completaria 52 anos de idade. Por mais que eu não ache graça alguma no automobilismo (aqui expliquei os motivos http://psicoisinhas.blogspot.com.br/2011/10/f1-perdeu-graca.html) é inegável a importância e a força do mito Ayrton Senna na história do automobilismo e na sociedade brasileira.

Senna nasceu numa família paulistana de classe média alta, sendo filho de um empresário. Como ele mesmo disse em diversas ocasiões, Senna era um homem privilegiado, sempre teve uma vida muito boa. Desde muito jovem, incentivado por seu pai, desenvolveu enorme paixão pela velocidade. Começou a competir nas provas de kart e estreou na Fórmula 1 no ano de 1984. Passou pelas equipes Toleman e Lotus, antes de ingressar na união de sucesso com a McLaren, sendo campeão em 1988, 1990 e 1991.

Mas o meu objetivo com este post é entender melhor essa tal idolatria em torno de Ayrton Senna e para isso é preciso analisar alguns pontos separadamente. Em primeiro lugar, Senna não seria um dos principais ídolos do esporte mundial se não vencesse, se não obtivesse resultados, ou seja, se não fosse bom. Portanto, Senna possuía o pré-requisito básico para ser um aspirante a ídolo: talento.

A partir disso a mídia escolheu Senna como ídolo graças a características como carisma, simpatia e talento. Através de um trabalho de marketing, sua imagem foi incansavelmente repetida até a acomodação no imaginário popular.

Antes de prosseguir, vale destacar uma coincidência ligada ao futebol da época do Senna. As pessoas da minha faixa etária provavelmente desconhecem o período de “vacas magras” do nosso futebol, já que desde 1994 o Brasil tornou-se muito bem sucedido no esporte. Porém, muitos anos antes, a seleção brasileira de futebol havia vencido sua última Copa do Mundo em 1970, ficando num hiato de 24 anos, além de completar em 1989, quatro décadas sem ganhar uma Copa América. Nesta época a Fórmula 1 começou a adquirir força no Brasil, graças ao bicampeão Emerson Fittipaldi, ao tricampeão Nelson Piquet e principalmente com o também tricampeão Ayrton Senna. Era nas pistas que o país se sentia representado em todo o mundo.

Os mitos sempre cumprem uma função social, uma vez que projetam em suas imagens os sonhos e as aspirações coletivas. Deste modo, o “mito Ayrton Senna” é constituído por dois tipos de “Senna” e que convivem no imaginário popular: o semideus das pistas, veloz, selvagem, inigualável e o “rei da chuva”; e o cidadão carismático, bom-moço, tímido e simples. Sua imagem estava vinculada a ideia de um corajoso guerreiro e de um cidadão exemplar.

Neste processo de criação de ídolos é importante compreender que a indústria cultural visa o consumo. Para que o sujeito se transforme em consumidor é preciso que ocorra um enfraquecimento do poder de reflexão sobre sua própria decisão. Porém, nós, os consumidores, não somos apenas componentes de um mercado de produtos, mas também de um mercado de sentimentos, pois os indivíduos na organização capitalista são ao mesmo tempo objetos desejantes e de desejo, sendo que as celebridades são as mercadorias que os consumidores desejam possuir, porém numa relação que vai além de uma simples admiração e que ganha contornos de um desejo sexual.

Na nossa sociedade de consumo as imagens são pensadas na intenção de fazer o maior impacto possível no espectador ou na plateia tornando-se fetiches. No caso de Senna, sua imagem nos é apresentada de maneira extremamente sedutora, emotiva e representativa, pois o maior orgulho brasileiro estava no franzino piloto agitando a bandeira brasileira sempre após um triunfo e sendo acompanhado pelo “Hino da Vitória” entoado repetidamente pela Rede Globo, além do discurso bastante carregado de uma verbalização entusiasta de Galvão Bueno, que por muitas vezes lembrava um torcedor desequilibrado. Quem não se lembra dos gritos insuportáveis do Galvão Bueno falando: “Ayyyyyyrton Senna do Brasil!!!”?

Dito isto, outra distinção importante é que o status de celebridade implica uma divisão entre um eu privado e um eu público, sendo o primeiro a sua identidade verdadeira e o segundo o seu rosto público, ou seja, uma fachada que desperte interesse nas pessoas.  O eu público de Ayrton Senna descrevia um homem “vencedor, patriota e simpático”, tornando-se um modelo para uma sociedade.

Mas um ingrediente de grande impacto para esta formação do “mito Ayrton Senna”, foi a Rede Globo. A “Vênus Platinada” era e ainda é a detentora dos direitos de transmissão da F1. Além do mais, Senna possuía uma amizade forte com Galvão Bueno. Desta maneira temos uma fórmula quase perfeita de um ídolo: Rede Globo + carisma + talento + vitórias = quase divindade.

Mas como sempre digo, por trás de todo bom-mocismo exagerado sempre existe muita enganação. Senna possuía muitas destas características, porém algumas delas são retratadas de maneira bem distante da realidade. É difícil ver simplicidade num homem que esbanjava sua riqueza expondo mansões, lanchas, aeromodelos, pista de kart em fazenda particular e outros tipos de ostentações. Seu bom-mocismo também é discutível já que em 1990 jogou seu carro pra cima do Alain Prost, utilizando-se da mesma manobra utilizada pelo francês um ano antes, além do relacionamento ruim com os antagonistas da pista (depois dizem que só o Schumacher é o Dick Vigarista...). Tímido, aparentemente, ele não era já que sua vida pessoal sempre foi bastante explorada e algumas de suas namoradas tornaram-se famosas.

Mas sua mitificação foi completa graças a sua morte precoce. Senna morreu ainda jovem, aos 34 anos e ainda no auge de sua carreira. Ayrton Senna foi o primeiro campeão a morrer durante uma transmissão televisionada de um GP. O mundo inteiro acompanhou seu violento acidente. Sua perda encaixa-se perfeitamente na noção de “bela morte”. Para os gregos um guerreiro que morresse no auge de sua juventude e em uma batalha, após superar vários obstáculos, teria conquistado uma morte gloriosa. Sendo assim, a morte de Senna complementou e divinizou suas glórias nas pistas. A imagem que ficou de Ayrton foi de um herói, um mártir, não sendo apenas um simples ídolo e sim um mito. Um ponto que vale destacar é que ninguém viu e nem verá o seu período de decadência. Com toda certeza, se Senna estivesse vivo sua idolatria e endeusamento não seriam a mesma coisa, já que todo mundo acompanharia seu declínio.

No Brasil, muitas pessoas custaram a acreditar na notícia de sua morte, provocando o chamado “efeito São Tomé”. Para ter um exemplo, lembro que na época eu tinha sete anos de idade e meu pai me deu a notícia de sua morte. Realmente, para uma criança, a morte de Senna era algo absurdo e impensável. Não acreditei de início. Contudo, de uma forma diferente, a população brasileira queria ter a certeza de sua morte acompanhando, como se fosse uma procissão, o cortejo de seu funeral.

Entretanto, não somente seus fãs o idealizavam, mas também a nação brasileira, tanto que muitas pessoas o consideravam como alguém próximo, como um familiar. Sendo Senna um familiar ou um ente querido, a reação à sua morte é a de um luto. Quando os milhões de brasileiros choraram por Ayrton, na verdade choraram por suas perdas, por seus fracassos, e principalmente por terem perdido o seu orgulho de ser brasileiro.

Como não sou fã de automobilismo, nunca tive uma grande admiração por Ayrton Senna. Pra falar a verdade nem o considero o maior piloto, como afirmam alguns fãs, mas também não o considero um engodo, como avaliam seus antipatizantes. Simplesmente nunca me identifiquei com sua imagem ou com suas frases tão repetidamente reproduzidas em redes sociais. Infelizmente, a fatalidade se encarregou de imortalizar a sua figura.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Samba

REPRODUÇÃO




Por William Cavalcanti.


 
Antes de começar a falar sobre a história do samba, quero agradecer a oportunidade cedida por minha nobre amiga Amanda Borba.



O samba como muitos sabem, vem da origem do sincretismo africano, trazidos dos navios negreiros para o comércio de escravos ao nosso país em meados do século XVI. Através do batuque do candomblé nas senzalas, ou nos porões dos próprios navios negreiros, os negros saudavam seus orixás, clamavam a saudade da sua Terra Mãe ou Terra da Vida (Ilu Aye) e sonhavam por uma vida melhor, já que um dos motivos maiores para a escravização dos negros foi a ganância.



De lá pra cá, o samba evoluiu. Ganhou novos estilos e gêneros como o samba de enredo. Um samba acelerado que tem como principal objetivo exaltar em seus temas a riqueza da cultura universal mostrando na avenida, a apresentação coreografada do teatro ambulante por agremiações chamadas de ESCOLAS DE SAMBA.


GRSCES Vai – Vai. A música Venceu. Enredo campeão do carnaval Paulistano de 2011. Homenagem ao maestro João Carlos Martins

O samba de breque, outro ritmo caracterizado por frases faladas do intérprete, com graça e malandragem em seu estilo. Um dos principais nomes do samba de breque é Sinhô (José Barbosa da Silva) um dos pioneiros.

Onde Canta o Sabiá - Direção Antonio De Bonis. Direção musical Humberto Araújo cena com Ana Velloso/Maria Clara Wermelinger/Andrea Dantas/Duze Naccarati/Vera Novello musica Cansei (de Sinhô) - Teatro Ziembinski Ano de 2004

Samba de breque - Acertei no milhar. Música de Wilson Batista em parceria com Geraldo Pereira. Cantado por Moreira da Silva.


O estilo samba de breque existe até hoje, mas foi mais difundido por grandes cantores e compositores como Moreira da Silva, Germano Mathias, Dicró, Geraldo Pereira, Haroldo Lobo, Wilson Batista e outros mais...

O samba choro, ritmo caracterizado pela mistura do chorinho e do samba propriamente dito. Dá ao gênero um toque leve e de preciosidade.

Amélia Rabello - Ruas que sonhei. Composição: Paulinho da Viola



O samba de terreiro, ao contrário da alusão do batuque ao candomblé, o samba de terreiro é o ritmo caracterizado por sambas curtos de primeira e segunda parte de refrão continuado e versos repetitivos.


Quinteto em Branco e Preto – Não é só Garoa

Além desses citados, o samba também possui outros ritmos como samba de partido alto, semelhante ao repente nordestino utilizando o improviso nas rimas; o samba-roque com dança semelhante ao twist dos anos 50 e 60, porém um pouco mais cadenciado e coreografia rodopiada entre os casais; o samba de lamento que são canções negreiras entoando saudade e liberdade, entre outros gêneros.



Com o ritmo e dança bem marcado, hoje o samba é considerado uma das manifestações culturais brasileiras, mas ao contrário do que se pensa, o samba não teve início no estado do Rio de Janeiro conhecido como capital mundial do samba, mas sim, no estado da Bahia mais precisamente em Santo Amaro da Purificação a 100 km da capital Salvador no Recôncavo Baiano. Nos terreiros do candomblé e nas rodas de capoeira, os negros começaram suas primeiras melodias e criaram o samba de roda no século XIX. Hoje, o samba de roda é considerado patrimônio cultural da humanidade.



Em 1917, surge o primeiro samba gravado cantado por João da Bahia (Pelo Telefone) e registrado anteriormente em 1916 na Biblioteca Nacional por Ernesto Joaquim Maria dos Santos, (Donga) irmão do mestre Alfredo da Rocha Viana Filho (Pixiguinha) e parceria com Mauro de Almeida. Após essa gravação, o samba passou a se popularizar e fixou-se como gênero musical.



REPRODUÇÃO

Selo Odeon do primeiro Samba gravado – Pelo Telefone de Donga e Mauro de Almeida – 1917.


Pelo Telefone: Primeiro samba gravado em 1917 por João da Bahia. Música composta na casa de Tia Ciata cozinheira e mãe de Santo.


Por mero preconceito e racismo aos negros, o samba foi reprimido e discriminado em seu início. Atribuído à cultura africana e suas origens religiosas o samba era considerado pela elite brasileira da época como música de vagabundos, marginais e pobres sem classe. A polícia reprimia aqueles que encontravam na rua qualquer um que segurasse um simples violão. O violão não era considerado um instrumento digno de um cidadão de bem na época devido ao samba. Hoje, o samba é a marca de nosso país, conhecido por todo o mundo sendo até tema de Walt Disney em seus desenhos animados. Também, não existe outro ritmo que exalta tão bem a cultura de nosso país assim também não há um samba que deprecie ou desmotive o nosso Brasil.


Aquarela Brasileira. Samba de enredo compostos por Silas de Oliveira para o carnaval de 1964 para a escola de samba Império Serrano cantado aqui por Martinho da Vila. Uma homenagem ao grande compositor Ary Barroso que não pode ver ao desfile de sua homenagem. Veio a falecer 5 horas antes do desfile da Império.
 
 
 
Desenho de Walt Disney de 1942 – Aquarela do Brasil – Música de Ary Barroso.

 
 
Hoje também conhecido como “pagode” o ritmo mais tocado em rádio, atualmente, e em maioria formados por grupos de “pagode”, é bem provável que muitos não saibam que a palavra pagode significa uma reunião de sambistas em uma roda de samba. Samba, por sua vez, é um gênero musical dançante de raízes africanas.
 
 
 
Samba, agoniza mais não morre...” Passa por desafios mais nunca desiste como um bom brasileiro que é ou foge à luta. Se estiver triste, o samba alegra. Se estiver desiludido, o samba o faz reviver. Se estiver sozinho, o samba faz companhia. Para todo o bem, a culpa é do samba.
Walt Disney – Blame it on the Samba

“… Ser sambista é ver com os olhos no coração.
Ser sambista é crer que existe uma solução.
É a certeza de ter escolhido o que convém
É se engrandecer e sem menosprezar ninguém...”
Arlindo Cruz e Sombrinha – Seja Sambista Também