sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O simbolismo individual do natal

Por Andréa Araújo.


Sempre gostei  do natal.

Quando criança, eu morava em um bairro cercado por sítios em uma região campestre de São Paulo. Digo campestre não apenas para suavizar o ruralismo da coisa, mas para descrever como as casas possuíam jardins, árvores, rios e campos. Era um bom lugar para uma criança crescer.

Quando chegava a época natalina, ensaiávamos uma apresentação do nascimento de Jesus. Ninguém era bom ator, mas as meninas mais populares (e bonitas) sempre ficavam com os melhores papéis, enquanto eu sempre fazia parte do rol dos pastores ou  algo semelhante.

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Eram papéis secundários e isso me deixava um pouco chateada (na verdade ficava muito mais triste em saber que não poderia ser Maria porque não era bonita o suficiente), mas, todos os anos, eu aguardava pela época do natal.

Já ouvi muitas definições sobre o natal: desde aquelas que dizem que se tratar do nascimento de Jesus até aquelas que questionam o envolvimento do comércio na história.

Eu, entretanto, ainda aguardo pela época do natal como fazia na infância e hoje dou a ele um novo significado.

Aliás, cada um de nós dá significados particulares a datas e situações específicas. As pessoas podem gostar das mesmas festas, as quais possuem uma significação de conhecimento geral,  entretanto, cada uma dará à ocasião sua própria significação.

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O natal me traz à memória uma época que não existe mais: a parte feliz de minha infância. Uma época em que existiam rabanadas de minha avó e na qual minha mãe instruía meu irmão e eu a colocarmos nossas meias na janela da cozinha para que no dia seguinte, recebêssemos algum presentinho sabe-se lá de quem, pois, nunca tivemos a cultura de Papai Noel. Só sei que algum brinquedo de plástico aparecia na meia na manhã de natal e eu, embora um pouco desconfiada, ficava moderadamente feliz.

Conheço gente que não gosta do natal, pois, a data lembra entes queridos que partiram ou remete à tristeza e solidão. Outros já se entregam aos excessos característicos da época. E alguns, acham tudo uma grande bobagem, pois, Jesus (se é que existiu) sequer nasceu em dezembro e a data é apenas um pretexto para a prática exacerbada do capitalismo.

Bem...

Como já disse anteriormente, cada um interpreta a data de acordo com os símbolos que carrega internamente. E são esses símbolos que nos apontam para quão importante ou insignificante algo possa ser.

Meus símbolos apontam para uma árvore iluminada, pois, minha mãe fazia questão de montá-la todos os anos, para o carinho de minha avó, com as comidas maravilhosas de seu cardápio natalino e para o presépio humano-infantil que encenávamos (mesmo meio a contra-gosto em meu papel de coadjuvante feia).

Por isso e apesar disso, eu gosto muito do natal.

Feliz natal a todos os que gostam e também àqueles que não acham que o natal seja, assim, grande coisa.

O importante é olhar para dentro de nós e perceber para onde nossa estrela interna nos guia, seja para Belém, seja para Papai Noel, seja para a luta anticapitalismo, seja para a indiferença.

O nosso símbolo interior nos guiará.

Feliz, feliz natal!


sábado, 17 de dezembro de 2011

Torcedor e elitização do futebol

Por Amanda Borba.


Abastados leitores e abestados leitores. Depois de tanto tempo longe do blog, voltei. Agora que o campeonato brasileiro acabou e o Coringão foi campeão, quero falar sobre algumas coisas que me incomodam no futebol. 


Pois bem, cresci escutando aqueles velhos discursos sobre "time da elite" e "time do povo". Um monte de blábláblá e uma divisão completamente estúpida. Por isso, eu resolvi desconstruir alguns "mitos" criados a respeito disso. 


Tendo como referência alguns estudos realizados pelo Ibope, Data Folha e cambada a quatro, e analisando as pesquisas sobre as torcidas nas classes mais baixas, Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras aparecem como as maiores torcidas. Assim sendo, Flamengo e Corinthians são os clubes mais “populares” do país. Isso todo mundo está careca de saber.


Quando avalia-se o resultado das entrevistas com pessoas que possuem ensino superior, a ordem é a seguinte: Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco. Agora se o critério for a renda, a mesma ordem se mantem, mas com empate técnico entre Flamengo e Corinthians. Portanto, em termos absolutos, Flamengo e Corinthians também são os clubes mais “elitistas” do Brasil. Convenhamos nada mais natural, já que são as maiores torcidas do país.


O que quero dizer com todas estas informações é que “time de elite” em si não existe. Todos os clubes são do povo e possuem torcedores em todas as classes sociais e em todos os níveis de escolaridade. O que existe na verdade é uma tentativa de “elitizar” todas as torcidas. O futebol que começou como um esporte elitista e para poucos, tornou-se parte da cultura popular, porém sofrendo pressão do capitalismo selvagem. A questão aqui não é focar a mercantilização, mas sim a elitização do esporte. O futebol sempre foi mercado, sempre existiu salário, compra e venda de jogadores, a cartolagem e tudo mais. A diferença é que antes existiam os torcedores de arquibancada e das “gerais” (os famosos arquibaldos e geraldinos) o que aos poucos está diminuindo. Não critico a modernização dos estádios, pelo contrário, é necessário, ninguém merece entrar em pulgueiros, mas repreendo os preços nas alturas, que afastam uma parcela importantíssima da população. Isso sem contar as lojas oficiais de cada clube que fazem seus torcedores pagarem preços abusivos por camisas ou outros objetos do clube.


Certa vez eu conversava com um vizinho corintiano e ele me disse que não ia mais aos jogos do Corinthians por causa dos preços excessivos, pois não eram justos. E estou de pleno acordo. Ir ao estádio já pode ser considerado programa de "rico".


Também não quero dizer que quem tem grana não possa ir ao estádio. O amor por um time de futebol é maior do que qualquer conta bancária. Rico também ama. E de vez em quando usa o coração.


Outro ponto é que a origem de nenhum clube pode determinar o caráter sócio-econômico-cultural de alguma torcida. Se fosse assim, dos times cariocas, o único clube que poderia ser considerado “do povo” seria o Vasco da Gama. Mas na prática isso não acontece. O Flamengo, com origens elitistas, tornou-se o clube com o maior apelo popular no Brasil. Entretanto, a única ressalva se faz, caso essas histórias sirvam como “mitos de origem” e com isso se deseje explicar determinada auto-imagem que o torcedor e porventura o clube tenham em relação a si e aos outros. E, é claro, tudo isso com a ajudinha da mídia, porém não vou me aprofundar nesta questão.


Partindo do exemplo do futebol paulista, uma parte considerável da torcida do São Paulo gosta de ser tachada de “elite”, mesmo que em sua maioria sejam pobres. Mas isso acontece, principalmente, quando o argumento é comparar-se aos corintianos. É a sua auto-imagem sendo confrontada com a auto-imagem do outro. No entanto quero deixar bem claro que isso não é uma característica apenas são-paulina, mas também de palmeirenses, santistas e tantos outros que gostam de falar aquelas ladainhas idiotas como “corintiano é ladrão, analfabeto e favelado”. Da mesma forma acontece o oposto. Para os outros torcedores, os “são-paulinos são arrogantes, frescos e afeminados”, por isso adotam uma postura mais machista e de falsa modéstia (sim, pois todo torcedor é arrogante, principalmente quando o seu time está bem e o seu adversário está na merda).

Depois que passei a ver as coisas desta maneira costumo tirar o sarro desses estereótipos. Ao invés de me irritar com gente que só repete, sem consciência alguma, as coisas que escutam por aí, e de quebra parecer uma chata sem senso do ridículo, a melhor coisa a fazer é rir de si mesmo. As vezes, vejo certas coisas que me fazem querer desitir do futebol, mas o fascínio que o esporte proporciona a tantas pessoas não me permite fazer isso. 


O fato é que a elitização do torcedor chegou com tudo e nada indica que vai terminar. Muito pelo contrário. O jeito é acompanhar o seu time pela tv e com todo o conforto do lar.





Geraldinos e Arquibaldos - Gonzaguinha, irmão gêmeo do Doutor Sócrates.

domingo, 30 de outubro de 2011

Maradona: La Mano de Dios

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Por Amanda Borba


Hoje Diego Armando Maradona está completando 51 anos de idade. Quem me conhece sabe que me amarro no Dieguito. Quem não me conhece fica surpreso com a revelação. Geralmente, as pessoas costumam torcer o nariz quando falo o nome de Maradona ou então repetem aquela mesma arenga idiota, o chamando de “argentino drogado, cheira pó ou gordo fumeiro”. Pura cretinice.

Meu pai sempre foi um grande admirador do futebol argentino e fã incondicional de Maradona. Ele acompanhou toda a carreira de Diego, tem vídeos e sempre explica porque, em sua opinião, Maradona é o melhor jogador da história do futebol. Por isso, graças ao meu velho, passei a gostar do Maradona e a ter simpatia pela Argentina.

Não lembro bem ao certo quando decidi saber mais sobre Diego. Acredito que foi lá pelos meus 15, 16 anos. Até então eu não sabia dizer quem, em minha opinião, era o melhor jogador de futebol de todos os tempos. O único jeito era pesquisar sobre as carreiras e assistir vídeos dos maiores futebolistas da história.

E foi o que eu fiz. Assisti muitos vídeos de jogadores como Garrincha, Pelé, Di Stéfano, Zico, Cruyff, Platini, Zidane, antes de chegar ao Maradona. E tudo que eu havia visto até então não se igualava em nada com o que eu assistia de Diego. Jogadas que não vi nenhum outro jogador fazer. Maradona conseguia transformar um simples passe em pura genialidade, dando o mesmo brilhantismo como se fosse um gol de placa. A habilidade aliada a velocidade, a sua visão de jogo e seu domínio de bola eram impressionantes. Os gols então... Eram maravilhosos! Gol de falta dentro da grande área, próximo da área, de longa distância, driblando meio time adversário, gol olímpico, gol do meio-campo, gol de mão, enfim gol de tudo quanto é jeito. Maradona em campo era como se fosse um artista se apresentando no circo. Imprevisível e mágico. Sem dúvida alguma, ele foi o jogador mais técnico de toda a história do futebol.

Mas além de seu indiscutível talento, sua personalidade revolucionária sempre me chamou a atenção. Podemos comparar a carreira e a vida de Maradona a jornada do herói proposta por Campbell. Diego é tratado por seus admiradores como um "deus". Porém, um deus humanizado, dividido entre o mundo dos mortais e dos imortais, defendendo os mais fracos e denunciando corruptos e decadentes. Assim como qualquer escolhido, Maradona foi exposto desde a infância a grandes dificuldades.

Sua aventura tem como ponto de partida o mediano clube Argentinos Juniors. Entretanto, sua iniciação como ídolo aconteceu em sua passagem pelo clube de coração, o Boca Juniors. Chegando na Europa, Diego começa a ser testado e provado, enfrentando obstáculos monstruosos e prazerosos. 

No Barcelona, Diego tem que provar o talento e o valor de um "sudaca" (termo pejorativo para sul-americanos). Ainda na Espanha, Maradona teve a contusão mais grave de sua carreira, mas mesmo assim conseguiu mostrar uma espetacular performance no clube catalão que, ao meu ver, foi muito mais digna do que as passagens de Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Contudo, o grande ápice de sua carreira foram os sete anos jogando pelo Napoli e a Copa de 1986. Como diz o diretor de cinema iugoslavo Emir Kusturica: “Foi um milagre que a Terra não tenha saído de seu eixo quando mais de um bilhão de pessoas saltou ao mesmo tempo. Foi o momento que celebraram o gol de Maradona contra a Inglaterra na Copa do Mundo do México”.

E é verdade. Os dois tentos de Maradona contra a Inglaterra talvez sejam os gols mais famosos de toda a história do esporte bretão. Além de todo simbolismo que existiu nesta partida. Ambos os países haviam guerreado pela soberania das Ilhas Malvinas. Este jogo foi um daqueles pouquíssimos momentos em que um país endividado pelo FMI conseguiu triunfar sobre uma potência mundial. Graças a isso, Diego foi visto como herói e conquistou uma grande recompensa: o amor de todo o povo argentino e a admiração de bilhões de pessoas do mundo inteiro. E tudo isso só com o seu pé esquerdo, assim como no filme do ator Daniel Day-Lewis.

Ainda na Europa, Maradona cai diante da tentação das drogas, tornando-se mais uma vítima da cocaína, iniciando assim a sua autodestruição. Fico imaginando como teria sido mais longa a sua carreira e que jogador deixamos de ver. Acredito que teria sido muito mais extraordinário do que já foi. Escuto muita gente dizer que Maradona não é exemplo para ninguém por causa do seu problema com as drogas. Penso o contrário. Antes ele poderia não ser, mas hoje ele é um exemplo de como se supera a dependência química. Mas enfim, acredito que Maradona não se importa em ser ou não ser exemplo para as pessoas.

Contudo, assim como qualquer "mito herói", Maradona mesmo destruído e lembrando um comedor de espaguete quase morto, consegue, graças a uma ajuda sobrenatural, renascer das cinzas como uma ave fênix, mas agora adquirindo o aspecto de um revolucionário mexicano. Mas esta foi apenas uma das tantas ressurreições de Diego. Depois disso, o herói Maradona finalmente conseguiu retornar à sua pátria. 

Ninguém imagina como fiquei contente em vê-lo na última Copa do Mundo e como torci pelo seu sucesso. Observar aquele senhor baixinho, vestido de terno, fumando charuto, lembrando um mafioso, e com um terço nas mãos, dirigindo a seleção de seu país foi algo indescritível. Havia algo místico no ar. Assistindo o Maradona na Copa do Mundo da África do Sul, eu tive a sensação de estar vendo um filme italiano, pois eram alegrias e tristezas ao mesmo tempo.

Por tudo isso, nenhum outro jogador de futebol é tão ídolo como Diego. A devoção dos napolitanos é gigantesca. Maradona trouxe o orgulho aos habitantes de Nápoles. O time azul e branco era o único representante do sul da Itália que finalmente conseguia quebrar a sensação de que os sulistas não podiam ganhar dos nortistas desenvolvidos e ricos. Para os napolitanos, Maradona foi muito mais do que o jogador que fez o Napoli ganhar tudo, mas sim um santo. Santa Maradona!

Em Rosário, na Argentina, foi criada a Igreja Maradoniana para cultuá-lo e homenageá-lo. Esta seita nada mais é que um exemplo de uma sátira religiosa, característica da nossa sociedade secular. Esta igreja possui mais de cem mil membros em todo o mundo e há muitos pontos em comum com a Igreja Católica, como versões de orações, batismo, casamento e um livro sagrado.

Como relatei no meu texto sobre John Lennon, gosto de figuras humanas e Maradona é assim. Ele é um deus humano. Nunca fez questão de parecer perfeito e de pregar um bom-mocismo falso como muitos fazem por aí. Por isso apesar de sua jornada heróica, Maradona é muito mais um anti-herói do que um herói. Sua justiça é feita por motivos egoístas, pessoais, por vingança, por vaidade. Suas falhas são mais gritantes do que suas virtudes. Diego errou, brigou, xingou, venceu dificuldades e lutou como qualquer outra pessoa. Maradona foi, é e sempre será ele mesmo. Carismático, talentoso, controverso, genioso, humilde, convicto, divertido e sarcástico.

Agora quem quiser entender a personalidade e a vida deste senhor, eu indico o filme “Maradona por Kusturica”, a melhor película sobre o atleta. Eu ficaria aqui falando milhares de coisas sobre Maradona, mas prefiro deixar alguns videos. Afinal, como diz o provérbio, uma imagem vale mais do mil palavras.


"Santa Maradona, priez pour Moi"


A vida de Maradona em cinco minutos e ao som de The Killers.


Acho esta uma das cenas mais emocionantes do filme de Kusturica. Ninguém melhor do que Manu Chao para cantar sobre Maradona. "Si yo fuera Maradona viviria como el. Porque el mundo es una bola que se vive a flor de piel".


Passes geniais de Maradona.


Este documentário relata toda a trajetória de Maradona na Itália. O documentário completo está disponível no youtube.


Gol do meio-campo e sem o goleiro estar adiantado. Maradona era fodástico.


Alguns gols de Maradona.


O gol mais belo da história de todas as Copas do Mundo narrado de forma emocionante pelo locutor uruguaio Victor  Hugo Morales.










sábado, 29 de outubro de 2011

O bem-aventurado Sérgio Sampaio

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Quase todas as pessoas que conheço, não sabem quem foi Sérgio Sampaio. Por ser um artista que não se encaixava nos padrões dos cantores que as gravadoras desejavam, muita gente o chama de “maldito” da MPB. Sinceramente, acho este termo “maldito” um pouco besta, já que só alguns cantores acabam sendo classificados desta maneira, além da definição não ser muito clara. Lenine, por exemplo, até outro dia era considerado um cantor “maldito” devido seus trabalhos dos anos 80. Porém ele perdeu este rótulo depois que passou a flertar com o pop e a gravar canções de fácil “grude” tendo assim mais acesso ao grande público.

Entretanto, diferentemente de Lenine, Sérgio Sampaio nunca perdeu este título. Assim como a grande maioria, eu não o conhecia. Não sabia se era gordo, magro, alto, baixo e jamais havia escutado alguma coisa sobre ele. Vivia muito bem sem ele. Só fui tomar ciência de suas músicas há bem pouco tempo, coisa de um ano, um ano e meio. Lembro que foi através do Orkut. Numa das comunidades que eu participava, um membro postou um tópico falando sobre ele. Fiquei acompanhando a conversa do pessoal e assistindo cada um dos vídeos que iam sendo postados. Confesso que minha primeira reação foi ficar atônita. Suas composições eram absolutamente arguciosas e sua voz muito gostosa de ouvir. Foi paixão à primeira escuta.


Sérgio Sampaio nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, cidade que tem como filho mais ilustre o cantor Roberto Carlos. Devido este fato, quando ele fez sucesso com a música “Eu quero é botar meu bloco na rua”, que por sinal é sua canção mais conhecida, muitas pessoas achavam que Sérgio seria o sucessor do Robertão. O que não aconteceu, já que ambos eram absolutamente dessemelhantes. Outra curiosidade é que foi seu pai, Raul Sampaio, que compôs a música “Meu Pequeno Cachoeiro” gravada pelo Robertones no disco de 1970.

Buscando novos ares, Sérgio saiu de Cachoeiro e partiu para o Rio de Janeiro. Lá ele conheceu um baiano muito doido chamado Raul Seixas, que na época era produtor musical da gravadora CBS. O encontro dos dois foi eletrizante e do curto-circuito nasceu uma breve parceria. Muitos dizem que Raul seria a sua alma gêmea musical. A diferença é que Sérgio não conseguiu a mesma notoriedade e idolatria que Raulzito conquistou. O jeito de ser de Sérgio Sampaio foi o que mais colaborou com o ostracismo do cantor. Ele não queria fazer sucesso, seu interesse era simplesmente deixar suas obras para a posteridade.

De todo modo, Sérgio gravou vários estilos, como samba, choro, rock, blues, baladas e realizou algumas incursões pela música pop. Suas composições eram debochadas, escrachadas, melancólicas, ácidas, pessimistas e desesperadas. As principais influências estavam nas obras de Kafka e do poeta mais cabra-macho que existiu neste país, Augusto dos Anjos.

Independente de ser ou não “maldito”, Sérgio Sampaio foi um fantástico compositor e que por ironia do destino foi muito subestimado. Ele supera muitos outros compositores que são venerados por aí (não citarei nenhum para evitar maiores problemas, rsrsrs). Dos cantores atuais, Sérgio influenciou Zeca Baleiro, que lembra um pouco o seu estilo, mas sem a mesma genialidade.


Infelizmente, Sérgio Sampaio morreu de pancreatite, em 1994, graças ao abuso nas carraspanas. Não se tem certeza, mas é possível que, se estivesse vivo, sua visão sobre a carreira poderia ser completamente distinta, já que estaria mais experiente. Talvez até deixasse de ser tão “maldito” e cairia nas graças do público como um “abençoado” da música brasileira. Sua discografia é pequena, mas vale muito a pena escutar. Ouçam e deslumbram-se com um dos maiores compositores (esquecidos) da nossa música.



Marcha-rancho "Eu quero é botar meu bloco na rua", de 1973.


O xote elétrico "Quero ir" foi uma das parcerias de Sérgio Sampaio com Raul Seixas no disco "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10".


Samba "Odete". "Por entre bancários, automóveis"


Sérgio era um cantor muito expressivo e extremamente melódico. "Eu sou quem curte o silêncio, o momento, o segredo. Quem geme de frio. Quem tem medo. Quem anda abatido."



"Meu pobre blues" foi uma ambígua elegia para o seu conterrâneo Roberto Carlos. Interpretação de Zizi Possi.


Quem curte samba-canção vai se apaixonar por "Velho Bode". "Você é um fracasso no meu lado esquerdo do peito. Uma corda de nylon de aço que arrebenta quando eu faço nó".


"Ninguém vive por mim" é um pop bastante suingado e que relata a difíil relação de Sérgio Sampaio com a indústria fonográfica.


"Que loucura" é um fox em homenagem ao poeta e letrista Torquato Neto.




sexta-feira, 28 de outubro de 2011

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domingo, 16 de outubro de 2011

Meu querido Bob Charles

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Por Amanda Borba.

Passei toda a minha infância odiando o Roberto Carlos. Achava a voz dele feia, suas músicas eram chatas e extremamente bregas. Meu pai e minha mãe gostavam, mas o meu coroa escutava mais e até pedia para que eu gravasse os especiais de fim de ano e tudo mais. Pena que ele sempre curtiu as piores fases do Roberto e talvez isso explique a minha antipatia inicial.

Era horripilante, não dava pra escutar músicas como “Mulher de quarenta eu só quero ser o seu namorado” ou “Obsessão, não, não, obsessão. Essa mulher virou minha cabeça e o meu coração” ou pior ainda “Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra pra ser formosa”. Aaaaahhhhhhhhh! Queria me matar ao estilo Didi Mocó.

Porém uma pequena mudança aconteceu quando escutei “É preciso saber viver” na versão dos Titãs. Não acreditei. Isso é Roberto Carlos? No entanto, eu continuava com um pé atrás a respeito do Robertones. Ele ainda não havia me convencido. Ficava me perguntando como que um cara com músicas podres podia ser chamado de rei? Eu ficava inconformada.

Bom, mas depois que meu pai comprou no Largo Treze (salve os camelôs!) a discografia completa do Roberto Carlos entre 1959 e 1987, a minha visão sobre o Robertão mudou completamente. Sofreu um giro de 180 graus. Certo dia, meu pai escutava “Todos estão surdos” do disco de 1971. Eu já conhecia a versão do Nação Zumbi, mas nunca havia escutado a gravação original. Bicho, eu fiquei totalmente BES-TI-FI-CA-DA! Roberto Carlos estava cantando soul!

Aí fiquei curiosa e fui fuçar aqueles dois CDs com a discografia, em mp3, dos anos 60 e 70. E finalmente descobri que havia vida inteligente fora dos especiais de fim de ano da Globo. Continuei não curtindo a fase “iê-iê-iê”, a maioria das músicas eram bobinhas (com algumas preciosas exceções), mas me deliciei com os últimos discos dos anos 60: “Em ritmo de aventura”, “O Inimitável” e “Roberto Carlos 1969”. Eram petardos atrás de petardos. A música “Quando” já mostrava a passagem do sonzinho meia-boca para o black music. E quanto mais eu fui escutando, mais alcancei o amadurecimento das músicas do Robertão.

Mas o disco de 1969 foi o melhor da fase sessentista. Sua voz estava mais bonita e Roberto começava a se destacar como intérprete. “As flores do jardim da nossa casa”, “Não vou ficar” de Tim Maia, “Sua estupidez” e “As curvas da estrada de Santos” são alguns clássicos que estão presentes neste disco.

As flores do jardim da nossa casa - 1969 - Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos.


Mas o eldorado do Roberto Carlos estava mesmo nos anos 70. Ah! Os adoráveis anos 70! Robertão continuava funk, soul, mas não era mais rock ‘n’ roll. Ele já começava a ser gospel e romântico. Os arranjos eram ótimos. No disco de 1970, destaco a canção “Jesus Cristo”. Aqui ele bebeu da fonte da música gospel norte-americana. O piano, o coro, o baixo, as palmas, tudo isso foi engrandecendo a música. Neste mesmo disco também está a canção “Vista a roupa meu bem”. É um Roberto Carlos com a voz estranha, mas muito gozador.


Não vou ficar - 1969 - Composição: Tim Maia 


O álbum de 1971 é um dos meus preferidos. Praticamente todas as músicas são maravilhosas. Tem clássicos românticos como “Detalhes” e “Amada, amante”. A música “Como dois e dois” de Caetano Veloso é um soul no melhor estilo Ray Charles e acho um charme ele cantando “tudo em volta está deserto, tudo certo”. “Todos estão surdos” também é um soul maneiríssimo e com teor religioso. Porém uma música muito engraçadinha é “I Love You”, na qual Roberto canta ao estilo de Nelson Gonçalves um fox bem-humorado.

A partir de 1972, Roberto começa a fazer aquelas obras-primas que se eternizaram na trilha sonora da vida de muita gente. Suas composições ao lado de seu amigo de fé Erasmo Carlos falam de coisas que todo mundo vive: uma despedida; a volta de quem estava longe de casa; a chegada de uma criança; filhos; um amor que não deu certo; o relacionamento de um casal; a amizade; a sabedoria na simplicidade e etc.

Jesus Cristo - 1970 - Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos


No disco de 1972, destaco “Agora eu sei”, “Quando as crianças saírem de férias”, “Você é linda”, “À Distância” e “Negra”.

O álbum de 1973 também é muito legal. Gosto muito das músicas “A cigana” e “O moço velho”. Também adoro “Proposta” que é a primeira de várias canções românticas com doses de erotismo. Entretanto, o destaque vai para a última canção soul da carreira do Robertão, a música “Não adianta nada”.

Todos estão surdos - 1971 - Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Daí pra frente, até o início dos anos 80, Roberto gravou vários clássicos românticos de seu repertório. Particularmente, AMO o Roberto Carlos de 1967 a 1980. Mas acho que entre 1969 e 1973 sua obra pode ser considerada irretocável. Contudo admito que ODEIO o Roberto da década de 80 em diante. Quando escutei “Caminhoneiro”, entendi que ali o Robertão havia escolhido outro rumo para a sua carreira.

Como 2 e 2 - 1971 - Composição: Caetano Veloso

Acredito que nesta época o Transtorno Obsessivo Compulsivo também o atrapalhou muito, já que crenças e pensamentos negativos travavam sua inspiração. Ficou repetindo melodias e só mudando as letras. Já a fase “Maria Rita” não se aproveita nada. Virou um carola chorão e inteiramente bregão. Só escrevia música de “mulher de óculos, baixinha, gordinha e de 40”. E isso é o que me dá mais raiva. Fiquei p* da vida vendo o Roberto gravar com Chitãozinho e Xororó a música “Arrasta uma cadeira” (esses dois caipiras não se contentaram em afundar sozinhos e levaram o Robertão junto). Pra mim isso foi fim de feira. Uma catástrofe mundial. Como que pode um cara sair do original, sublime e comovente e ir para o decadente, brega e chato. Infelizmente, o Roberto se acomodou e resolveu ser um cantor de cruzeiro insistindo em renegar suas canções mais primorosas.

Agora eu sei - 1972 - Composição: Édson Ribeiro e Helena dos Santos

Enfim, mesmo com tudo isso, com aquela orquestra irritante e com a Rede Globo, eu continuo adorando o Bob Charles. Hoje acho incompreensível escutar alguém dizer que não gosta dele. Talvez digam isso por desconhecimento, já que durante toda a sua carreira ele foi um camaleão e teve inúmeras fases. De todo modo, eu penso que Roberto é um dos poucos cantores com a capacidade de sensibilizar as pessoas. É um trovador repleto de sentimentos. Graças as suas odes heroicas sobre o amor e todas as coisas que acontecem na vida de qualquer pessoa, eu consegui entender porque Roberto Carlos é chamado de rei. Ele realmente foi uma brasa, mora!


O Moço Velho - 1973 - Composição: Silvio César



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Renato Russo

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Por Amanda Borba.
Ontem se completou 15 anos da morte de Renato Russo. Eu tinha oito anos de idade e lembro que não entendi muito bem a notícia da sua morte, até porque não o conhecia. Porém só fui entrar em contato com a obra do Legião Urbana no final da adolescência. E vamos combinar, é quase como um ritual de passagem escutar Legião na puberdade. Até hoje, todo adolescente tem que curtir a banda. Quem não gostar é considerado um extraterrestre. Talvez por isso eu não escute muito o Legião Urbana. Me lembra demais a minha adolescência e pra falar a verdade ela não foi lá aquelas coisas.

Pra variar, no início eu odiava o Legião Urbana. Achava o Renato Russo um chatão, assim como todas as suas músicas. Detestava aquele “jeito Jerry Adriani de cantar” e aquela batidinha de violão manjada que deixavam quase todas as músicas iguais. Também sempre achei idiota a forma como muita gente tratava (e ainda trata) o Renato Russo e as composições do Legião Urbana. Essas pessoas conseguiam transformá-lo em algo chato, careta, profético e messiânico. Muito superestimado. Um porre total. Por isso durante muito tempo não me interessei em escutar a banda.

Mas tudo mudou quando ouvi a música Monte Castelo. Bicho, fui pega de jeito. Era tão sublime. De uma elevação espiritual impressionante. Fiquei apaixonada pela canção e pensei: “aí deve ter ouro escondido”. Fui atrás e depois de ouvir várias músicas cheguei a conclusão que Legião Urbana continuava sendo tudo aquilo que eu pensava, mas que também era muito legal. As letras das músicas eram inteligentes. A partir daí, passei a escutar a banda com mais frequência (hoje nem tanto) e desde então tenho algumas canções que considero especiais.

Sobre o Renato Russo, acho apenas que ele era um sujeito confuso e muito sorumbático. É fácil perceber toda essa obscuridade quando escutamos uma canção do Legião e temos vontade de cortar os pulsos. É tudo muito down e depressivo. Nota-se que as composições refletiam o estado de espírito constante de Renato Russo.

Mas é isso aí. Nunca me identifiquei com o Renato e com o Legião Urbana, mas reconheço as coisas boas que fizeram. Porém não me peçam para escutar Faroeste Caboclo, senão eu durmo ou vou embora... rsrsrs


Monte Castelo


Daniel na cova dos leões

Tempo Perdido


Ainda é cedo

A F1 perdeu a graça?

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Um esporte que sempre achei besta é o automobilismo. Nem sei se isso pode ser chamado de esporte. Mesmo que exista uma exigência na destreza e na concentração, considero o automobilismo apenas uma competição. Está mais para um “esporte” corporativo. Sempre achei que um maratonista é muito mais atleta do que vários pilotos. Graças a Deus nunca me intoxiquei com a F1. Nunca vi graça em ficar mais de uma hora assistindo carros correndo. Sem contar o barulho. É tão empolgante quanto ver uma disputa entre Microsoft e Apple. Dá sono. No entanto, mesmo não curtindo, costumo me informar superficialmente sobre as equipes e os pilotos.

Nesta semana, o alemão Sebastian Vettel conquistou o seu bicampeonato com quatro corridas de antecedência. É o piloto mais jovem a ser bicampeão da Fórmula 1. Por causa disso, escutei muita gente dizendo que “isso não tem graça, a Fórmula 1 está chata, não tem a mesma emoção de outros tempos”.

Na época do também alemão Michael Schumacher os comentários eram os mesmos. Para os brasileiros a Fórmula 1 não tinha mais graça e o Schumacher não tinha concorrentes a altura, diferentemente de Ayrton Senna que disputava com vários rivais, como Allan Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet. A partir daí todo mundo já sabe. É comparação daqui, dali, acolá, quem é melhor, quem foi isso, quem foi aquilo e blábláblá.

Particularmente, acho difícil dizer qual foi o melhor piloto. Existiram grandes pilotos, em épocas muito diferentes, mas não devemos esquecer que o objetivo principal do automobilismo é medir a capacidade do carro. Qual carro é o melhor. Essa história de que piloto bom é aquele que ganha no braço é balela. Nenhum piloto foi campeão com um carro ruim, mas sim com um carro potente. 

Se eu fosse uma fanática por Fórmula 1 certamente estaria irritada com o nível dos comentaristas da categoria. Galvão Bueno e companhia sempre fazem comentários idiotas e que qualquer leigo poderia fazer: “Se chover é bom pro Rubinho!”. Caramba bicho, Rubinho é tão medíocre que precisa de uma ajudinha da natureza pra ganhar. O pior é que a maioria dos comentários gira em torno do clima, pouco se fala dos carros. Ninguém sabe dizer por que tal carro é melhor que o outro, o que ele tem de inteligente, como é a sua aerodinâmica e outros conceitos importantes da mecânica. Quem quiser estar por dentro do automobilismo tem que correr atrás de informações em sites especializados, principalmente de outros países. 

Tempos atrás, li num blog, não lembro qual, que o brasileiro só gosta mesmo de futebol. Os outros esportes só interessam se houver algum competidor brasileiro bom e com chances de ser campeão. E estou de acordo. Quando o Guga estava no auge, o Brasil era o país do tênis. Quando Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna estavam vencendo e a seleção brasileira não ganhava a Copa do Mundo, o Brasil era o país da Fórmula 1. E por aí vai.

O fato é que a Fórmula 1 continua sendo o que sempre foi. O que mudou é que desde a morte de Ayrton Senna, nenhum piloto brasileiro emplacou na categoria. A Rede Globo tentou a todo custo colocar o PODRE do Rubens Barrichello no status de ídolo e não conseguiu. A mesma coisa aconteceu com o molenga do Felipe Massa. A Fórmula 1 perdeu a graça para o brasileiro, pois os pilotos compatriotas pararam de ganhar. Por isso, acho que o brasileiro nunca gostou verdadeiramente de automobilismo. Será que os brasileiros achariam chato, caso os sete títulos do Schumacher fossem de um brasileiro? Será que achariam sem graça o título de Vettel com várias corridas de antecedência, caso ele tivesse nascido no Brasil? Hum, tenho certeza que não.

domingo, 9 de outubro de 2011

John Lennon: o meu beatle preferido

REPRODUÇÃO

Por Amanda Borba.


Na adolescência, eu fiz parte de um grupo de teatro amador que nunca se apresentou ao público. Lembro que numa das reuniões do grupo, meu professor de teatro perguntou o seguinte: “quais são os seus ídolos?”. Todo mundo respondeu. Quando chegou a minha vez, meu lado bicho-grilo falou mais alto e soltei na bucha Raul Seixas e John Lennon. Hoje não citaria Raul como ídolo, mas o John Lennon com certeza sim.

Na verdade, nunca idolatrei alguém que eu pudesse colocar no patamar acima do bem e do mal. Obviamente existem pessoas que eu admiro e simpatizo. Costumo ser atraída por figuras extremamente humanas, isto é, caóticas, com virtudes, com falhas, com enigmas existenciais, mas que tenham algo especial. São como os semideuses gregos. E John Lennon era uma dessas figuras.

"Mother" é um grito para ambos os pais sobre o abandono na infância. Seu pai Alfred Lennon deixou a família quando John era um bebê, sua mãe Julia , que não viveu com seu filho, apesar de terem um bom relacionamento, foi atropelada e morta por um policial bêbado e fora de serviço quando Lennon tinha 17 anos.


Hoje John Lennon faria 71 anos de idade. Não escondo de ninguém que sou lennonista de carteirinha. Um dos poucos cantores capaz de tocar em minhas emoções. Se eu fosse uma personalidade masculina, sem dúvida alguma escolheria ser o John Lennon. Ou então adoraria conhecer um cara como ele.

Dentre os Beatles, John tinha a melhor voz e era o mais genial do grupo. Não quero dizer que os outros eram pouca coisa, muito pelo contrário. George Harrison era extraordinário. Paul era um excelente músico, um ótimo compositor e cantava muito bem. Muitas vezes é acusado, injustamente, de só fazer “música de elevador e sem nenhuma graça”. Sinceramente, não consigo entender o que certas pessoas têm contra as baladas. A vida não é só doidera ou realidade nua e crua. A vida também é romantismo, é simplicidade. Além disso, ao lado de Paul McCartney, John formou uma das duplas de compositores mais famosa da história da música. Diria que enquanto o Paul era um dia ensolarado, romântico e suave, John era um dia nublado, denso e energético. Por outro lado, dos "fab four" Ringo Star era o que chamava menos atenção, mas foi gênio só pelo fato de ter feito parte da mesma banda desses três mitos, rsrsrs.


"Well, we all shine on". Demais.


Porém John era o grande destaque. Seu temperamento rebelde aparecia na sua forma de cantar, nas letras de suas canções e nas experimentações musicais que fazia. Entretanto, reza a lenda que John pirou na batatinha quando Bob Dylan, acostumado a escrever músicas com teor político-sociais, soltou o verbo dizendo que suas letras (antes do disco Revolver) eram fraquinhas. Lennon encarou isso como uma provocação e então começou a fazer obra-prima atrás da outra. Isso sim é o que eu chamaria de “with a little help from my friends”.


"Ah, bowakawa, poussé, poussé!"


Também não posso deixar de citar o seu grude deliciosamente irritante com a sua japa girl Yoko Ono. Os dois juntos eram uma curtição assombrosa. Posaram nus para a capa e contracapa de um álbum experimental; foram pra cama em favor da paz; e se envolveram com as lutas antirracistas, pelos direitos das mulheres, dos trabalhadores e pelo fim da Guerra do Vietnã.


Um John Lennon feminista. Eu piro com esta música. Procurem a tradução desta canção na internet e vocês entenderão. Maravilhosa!

John Lennon também se aproximou de ativistas da extrema-esquerda dos Estados Unidos, como John Sinclair e os Panteras Negras. Por causa disso, Nixon mandou o FBI perseguir o casal, na intenção de deportá-los. Toda esta situação como ativista político é facilmente percebida nas letras das canções de seus primeiros discos, como por exemplo, "Power to the people", "Working class hero", "Woman is the nigger of the world", "Only People", "Sunday Bloody Sunday" e "John Sinclair".

Esta é a sua canção mais famosa. Nem sempre uma música puramente anarquista precisa ter um tom raivoso. "Imagine" é uma canção belíssima que nos convida a uma reflexão e ao exercício da imaginação de um futuro utópico, mas com muita virtude.


Mas como todo casal, John e Yoko brigaram, depois se separaram e fizeram as pazes novamente. O que pouca gente reconhece é que Yoko também foi importantíssima para a elaboração de suas músicas mais experimentais. Quem escuta as canções da carreira solo de John Lennon, certamente compreende sua obra como um diário pessoal, no qual o ex-beatle falava de suas angústias, de suas alegrias, de suas convicções, da sua mulher, do seu filho e da sua vida.

Apesar de gostar muito do Paul McCartney e de muitas de suas canções - inclusive foi o artista solo que mais vendeu discos nos anos 70 - a discografia de John Lennon, mesmo sendo menor, é muito melhor. Dá um banho no Paul. As músicas de John têm mais energia, mais sustância, mais conteúdo e mais swing.   


Quando escuto essa música tenho vontade de chorar. Só um coração de pedra não se emociona, rsrs. Como é linda! Essa Yoko Ono era muito sortuda, rsrsrs.


Antes de terminar, quero comentar que a morte de nenhum outro grande artista mexe tanto comigo como a de John Lennon. Assassinado a tiros por um fã imbecil e cheio de ódio. A maneira estúpida como tiraram a sua vida me dá vontade de chorar. Como sou um pouco chorona e em dezembro costumo ser mais sentimental, nem posso ver especiais sobre o John Lennon, pois já começa a formar um nó na garganta e quando percebo já me emocionei.



Música homenageando sua mulher Yoko. "Oooooh, well, well. Doo, doo, doo, doo, doo"


Para muita gente, sua morte precoce, aos quarenta anos de idade e da forma que foi, o colocou no patamar de um mártir. Não o vejo desta forma, isso é um grande exagero. Pra mim, John Lennon era simplesmente um cara lindo, encantador, especial, visionário, irreverente, polêmico, bem-humorado, ácido, franco, doce, poético e autocentrado (muitas de suas músicas falavam de si mesmo). Enfim, um sujeito de muitas facetas, mas que se escondia atrás de seus pequenos óculos redondinhos. Um homem com uma capacidade impressionante de apaixonar pessoas de várias gerações. Só o que posso dizer é que escutando as músicas desse libriano controverso e absolutamente genial, finalmente consegui encontrar alguém que me entende.

John Lennon extremamente doce. Confesso que gastei muita agulha escutando, ou melhor, quase furei o CD, rsrsrsrs.