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Por Amanda Borba.
Caros leitores, hoje o clube mais popular de São Paulo e um dos mais populares do Brasil está completando 101 anos de existência. Obviamente que estou falando do alvinegro do Parque São Jorge.
No dia 1º de setembro de 1910, ano do nascimento do sambista Adoniran Barbosa, um grupo de operários no bairro do Bom Retiro, mais precisamente na esquina da rua dos Italianos com a rua José Paulino, e à luz de um lampião, decide criar um time de futebol que teria seu nome inspirado em um clube inglês. Assim nasceu o Sport Club Corinthians Paulista.
O Coringão já nasceu grande e rapidamente tornou-se um time popular e vitorioso. Aquele humilde clube era o time preferido dos imigrantes e trabalhadores pobres do início do século XX, na cidade de São Paulo.
"Amor Branco e Preto" composta pelos corintianos Rita Lee e Arnaldo Baptista.
Minha mãe sempre conta que o time preferido do meu avô era o Corinthians. Lá pela década de 50, meu avô costumava viajar do interior da Bahia até São Paulo em busca de trabalhos e negócios e sempre que voltava aquele caboclo repetia a mesma frase: "Corinthians, Timão".
Com o meu pai aconteceu uma história curiosa. O tio do meu pai era um corintiano roxo, doente, daqueles que acendia velas para rezar e pedir vitórias para o Corinthians. Lembrava o fanático personagem corintiano interpretado pela Mazzaropi na década de 60. Este tio ficou responsável em registrar o nome do meu pai no cartório. Chegando lá, aconteceu o seguinte: meu pai que se chamaria Renato foi registrado como Cláudio, nome do principal jogador corintiano na década de 50 e até hoje o maior artilheiro da história do clube.
Trailer do filme "O Corintiano", de 1966 e protagonizado por Amácio Mazzaropi.
Para os corintianos mais orgulhosos da fidelidade de sua torcida (muitos até torcem mais pela torcida do que pelo time) o momento principal desta demonstração de amor foi no jejum de 23 anos e que por causa disso até hoje gostam de se autoproclamar "sofredores". Outro fato histórico foi a famosa "Invasão Corintiana" no Maracanã, na partida contra o Fluminense, pelo campeonato brasileiro de 1976.
Sobre os timaços históricos muitos lembrarão: da grande equipe dos anos 50, com Cláudio e Luisinho; o time da Democracia Corintiana nos anos 80, com Sócrates, Casagrande e Zenon; e a equipe mais vitoriosa da história corintiana e campeã mundial da FIFA no ano 2000, com Marcelinho Carioca, Vampeta, Ricardinho e Rincón.
"Transplante corintiano" é uma das marchinhas mais famosas cantada pelo "patrão" Silvio Santos.
Particularmente, nunca tive simpatia pelo Corinthians, é inclusive o time que menos gosto e acho o "corintianismo" uma chatice. Essa história de que "tudo para o Corinthians é mais sofrido" e que por isso existe um merecimento maior nunca me convenceu. É tão difícil ter mais torcida, mais mídia e mais dinheiro que os demais. Sofredor pra mim é torcedor da Portuguesa ou do Juventus da Mooca. Nos últimos vinte anos, o Coringão está sempre disputando títulos e foi o clube mais bem sucedido nacionalmente, com 3 Copas do Brasil e 4 campeonatos brasileiros. A realidade do clube é bem diferente da realidade de 1977 e portanto o próprio torcedor corintiano também mudou. Hoje é moleza ser corintiano e este discurso dos anos 70 já não faz mais nenhum sentido.
Também detesto a visão maniqueísta pregada pelo "corintianismo" como se apenas o Corinthians fosse o "time dos pobres e dos oprimidos" e os outros são os "times dos opressores". Esse papo de que tem que ser sofrido, maloqueiro parece coisa de Igreja Católica. E tem mais, deve-se defender a arte e não o sofrimento pro povo. Sem contar que acho este discurso bastante esquizofrênico, já que muitos se auto-declaram maloqueiros e blá blá blá, mas em outros assuntos assumem o discurso reacionário. Vejo muito corintiano fazendo isso.
Porém, devo confessar que admiro algumas coisas no Corinthians, como o seu início, a Democracia Corintiana e o grande Doutor Sócrates. Tirando isso, nada mais me interessa.
A maneira como o corintiano encarna o estereótipo de "maloqueiro e sofredor" e como a figura do corintiano permeia o imaginário popular (basta ver os inúmeros personagens corintianos feitos na televisão e no cinema) é interessantíssima. Mas o exagero chega a torná-los insuportáveis, pois acreditam que são a "melhor torcida do mundo" e que só eles são o "povo". Essa coisa de que "nós somos o povo" no fundo nada mais é do que um argumento totalitário. E abusando um pouquinho da lei de Godwin, uma coisa é ser mais popular, outra é ser "o povo", tipo o "fusca", carro do povo alemão, mas... para o Hitler. Em suma, povo é muita gente.
Obviamente que não acho que exista uma torcida mais apaixonada por um time do que outra. Em todos os times encontraremos torcedores obcecados, colecionando tudo sobre o seu clube do coração. Afinal de contas, o futebol é movido à paixão e como todo mundo sabe a paixão faz o indivíduo perder a cabeça, a sua individualidade e a idealizar de maneira mítica o seu objeto de amor, neste caso o time de futebol.
Falando sobre isso, lembrei desta passagem do filme argentino "O Segredo dos Seus Olhos": “O sujeito pode trocar tudo. De cara, de casa, de família, de namorada, de religião, de Deus. Mas há uma coisa que ele não pode trocar. Ele não pode trocar sua paixão.” (Pablo Sandoval)
Mas voltando ao assunto, a fase da democracia corintiana é a que eu mais gosto. A democracia foi idealizada pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Wladimir, na qual todos os jogadores tinham direito de votar e decidir junto com a diretoria os rumos do clube. Nesta época, o Corinthians de Sócrates foi o único clube a falar abertamente em democracia em meia à ditadura militar. Isso é um mérito e tanto para um time e acredito que ninguém nega isso. Pena que passou e o Corinthians do Andrés não lembra nada o Corinthians da Democracia.
Sobre o doutor Sócrates, acho uma lástima ele não ter jogado no meu Tricolor, mas pelo menos o seu irmão Raí veio e fez uma belíssima história com o manto são-paulino.
Enfim, corintianos, aqui deixo esta homenagem aos 101 anos do Coringão e aos grandes jogadores que vestiram a camisa deste time, como Rivelino, Sócrates, Zenon, Neto, Tevez, Ronaldo e tantos outros.
Salve o Corinthians!
Hino do Corinthians.