Por Andréa Araújo.
Sempre gostei do natal.
Quando criança, eu morava em um bairro cercado por sítios em uma região campestre de São Paulo. Digo campestre não apenas para suavizar o ruralismo da coisa, mas para descrever como as casas possuíam jardins, árvores, rios e campos. Era um bom lugar para uma criança crescer.
Quando chegava a época natalina, ensaiávamos uma apresentação do nascimento de Jesus. Ninguém era bom ator, mas as meninas mais populares (e bonitas) sempre ficavam com os melhores papéis, enquanto eu sempre fazia parte do rol dos pastores ou algo semelhante.
REPRODUÇÃO |
Eram papéis secundários e isso me deixava um pouco chateada (na verdade ficava muito mais triste em saber que não poderia ser Maria porque não era bonita o suficiente), mas, todos os anos, eu aguardava pela época do natal.
Já ouvi muitas definições sobre o natal: desde aquelas que dizem que se tratar do nascimento de Jesus até aquelas que questionam o envolvimento do comércio na história.
Eu, entretanto, ainda aguardo pela época do natal como fazia na infância e hoje dou a ele um novo significado.
Aliás, cada um de nós dá significados particulares a datas e situações específicas. As pessoas podem gostar das mesmas festas, as quais possuem uma significação de conhecimento geral, entretanto, cada uma dará à ocasião sua própria significação.
REPRODUÇÃO |
O natal me traz à memória uma época que não existe mais: a parte feliz de minha infância. Uma época em que existiam rabanadas de minha avó e na qual minha mãe instruía meu irmão e eu a colocarmos nossas meias na janela da cozinha para que no dia seguinte, recebêssemos algum presentinho sabe-se lá de quem, pois, nunca tivemos a cultura de Papai Noel. Só sei que algum brinquedo de plástico aparecia na meia na manhã de natal e eu, embora um pouco desconfiada, ficava moderadamente feliz.
Conheço gente que não gosta do natal, pois, a data lembra entes queridos que partiram ou remete à tristeza e solidão. Outros já se entregam aos excessos característicos da época. E alguns, acham tudo uma grande bobagem, pois, Jesus (se é que existiu) sequer nasceu em dezembro e a data é apenas um pretexto para a prática exacerbada do capitalismo.
Bem...
Como já disse anteriormente, cada um interpreta a data de acordo com os símbolos que carrega internamente. E são esses símbolos que nos apontam para quão importante ou insignificante algo possa ser.
Meus símbolos apontam para uma árvore iluminada, pois, minha mãe fazia questão de montá-la todos os anos, para o carinho de minha avó, com as comidas maravilhosas de seu cardápio natalino e para o presépio humano-infantil que encenávamos (mesmo meio a contra-gosto em meu papel de coadjuvante feia).
Por isso e apesar disso, eu gosto muito do natal.
Feliz natal a todos os que gostam e também àqueles que não acham que o natal seja, assim, grande coisa.
O importante é olhar para dentro de nós e perceber para onde nossa estrela interna nos guia, seja para Belém, seja para Papai Noel, seja para a luta anticapitalismo, seja para a indiferença.
O nosso símbolo interior nos guiará.
Feliz, feliz natal!