Ontem se completou 15 anos da morte de Renato Russo. Eu tinha oito anos de idade e lembro que não entendi muito bem a notícia da sua morte, até porque não o conhecia. Porém só fui entrar em contato com a obra do Legião Urbana no final da adolescência. E vamos combinar, é quase como um ritual de passagem escutar Legião na puberdade. Até hoje, todo adolescente tem que curtir a banda. Quem não gostar é considerado um extraterrestre. Talvez por isso eu não escute muito o Legião Urbana. Me lembra demais a minha adolescência e pra falar a verdade ela não foi lá aquelas coisas.
Pra variar, no início eu odiava o Legião Urbana. Achava o Renato Russo um chatão, assim como todas as suas músicas. Detestava aquele “jeito Jerry Adriani de cantar” e aquela batidinha de violão manjada que deixavam quase todas as músicas iguais. Também sempre achei idiota a forma como muita gente tratava (e ainda trata) o Renato Russo e as composições do Legião Urbana. Essas pessoas conseguiam transformá-lo em algo chato, careta, profético e messiânico. Muito superestimado. Um porre total. Por isso durante muito tempo não me interessei em escutar a banda.
Mas tudo mudou quando ouvi a música Monte Castelo. Bicho, fui pega de jeito. Era tão sublime. De uma elevação espiritual impressionante. Fiquei apaixonada pela canção e pensei: “aí deve ter ouro escondido”. Fui atrás e depois de ouvir várias músicas cheguei a conclusão que Legião Urbana continuava sendo tudo aquilo que eu pensava, mas que também era muito legal. As letras das músicas eram inteligentes. A partir daí, passei a escutar a banda com mais frequência (hoje nem tanto) e desde então tenho algumas canções que considero especiais.
Sobre o Renato Russo, acho apenas que ele era um sujeito confuso e muito sorumbático. É fácil perceber toda essa obscuridade quando escutamos uma canção do Legião e temos vontade de cortar os pulsos. É tudo muito down e depressivo. Nota-se que as composições refletiam o estado de espírito constante de Renato Russo.
Mas é isso aí. Nunca me identifiquei com o Renato e com o Legião Urbana, mas reconheço as coisas boas que fizeram. Porém não me peçam para escutar Faroeste Caboclo, senão eu durmo ou vou embora... rsrsrs
Um esporte que sempre achei besta é o automobilismo. Nem sei se isso pode ser chamado de esporte. Mesmo que exista uma exigência na destreza e na concentração, considero o automobilismo apenas uma competição. Está mais para um “esporte” corporativo. Sempre achei que um maratonista é muito mais atleta do que vários pilotos. Graças a Deus nunca me intoxiquei com a F1. Nunca vi graça em ficar mais de uma hora assistindo carros correndo. Sem contar o barulho. É tão empolgante quanto ver uma disputa entre Microsoft e Apple. Dá sono. No entanto, mesmo não curtindo, costumo me informar superficialmente sobre as equipes e os pilotos.
Nesta semana, o alemão Sebastian Vettel conquistou o seu bicampeonato com quatro corridas de antecedência. É o piloto mais jovem a ser bicampeão da Fórmula 1. Por causa disso, escutei muita gente dizendo que “isso não tem graça, a Fórmula 1 está chata, não tem a mesma emoção de outros tempos”.
Na época do também alemão Michael Schumacher os comentários eram os mesmos. Para os brasileiros a Fórmula 1 não tinha mais graça e o Schumacher não tinha concorrentes a altura, diferentemente de Ayrton Senna que disputava com vários rivais, como Allan Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet. A partir daí todo mundo já sabe. É comparação daqui, dali, acolá, quem é melhor, quem foi isso, quem foi aquilo e blábláblá.
Particularmente, acho difícil dizer qual foi o melhor piloto. Existiram grandes pilotos, em épocas muito diferentes, mas não devemos esquecer que o objetivo principal do automobilismo é medir a capacidade do carro. Qual carro é o melhor. Essa história de que piloto bom é aquele que ganha no braço é balela. Nenhum piloto foi campeão com um carro ruim, mas sim com um carro potente.
Se eu fosse uma fanática por Fórmula 1 certamente estaria irritada com o nível dos comentaristas da categoria. Galvão Bueno e companhia sempre fazem comentários idiotas e que qualquer leigo poderia fazer: “Se chover é bom pro Rubinho!”. Caramba bicho, Rubinho é tão medíocre que precisa de uma ajudinha da natureza pra ganhar. O pior é que a maioria dos comentários gira em torno do clima, pouco se fala dos carros. Ninguém sabe dizer por que tal carro é melhor que o outro, o que ele tem de inteligente, como é a sua aerodinâmica e outros conceitos importantes da mecânica. Quem quiser estar por dentro do automobilismo tem que correr atrás de informações em sites especializados, principalmente de outros países.
Tempos atrás, li num blog, não lembro qual, que o brasileiro só gosta mesmo de futebol. Os outros esportes só interessam se houver algum competidor brasileiro bom e com chances de ser campeão. E estou de acordo. Quando o Guga estava no auge, o Brasil era o país do tênis. Quando Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna estavam vencendo e a seleção brasileira não ganhava a Copa do Mundo, o Brasil era o país da Fórmula 1. E por aí vai.
O fato é que a Fórmula 1 continua sendo o que sempre foi. O que mudou é que desde a morte de Ayrton Senna, nenhum piloto brasileiro emplacou na categoria. A Rede Globo tentou a todo custo colocar o PODRE do Rubens Barrichello no status de ídolo e não conseguiu. A mesma coisa aconteceu com o molenga do Felipe Massa. A Fórmula 1 perdeu a graça para o brasileiro, pois os pilotos compatriotas pararam de ganhar. Por isso, acho que o brasileiro nunca gostou verdadeiramente de automobilismo. Será que os brasileiros achariam chato, caso os sete títulos do Schumacher fossem de um brasileiro? Será que achariam sem graça o título de Vettel com várias corridas de antecedência, caso ele tivesse nascido no Brasil? Hum, tenho certeza que não.
Na adolescência, eu fiz parte de um grupo de teatro amador que nunca se apresentou ao público. Lembro que numa das reuniões do grupo, meu professor de teatro perguntou o seguinte: “quais são os seus ídolos?”. Todo mundo respondeu. Quando chegou a minha vez, meu lado bicho-grilo falou mais alto e soltei na bucha Raul Seixas e John Lennon. Hoje não citaria Raul como ídolo, mas o John Lennon com certeza sim.
Na verdade, nunca idolatrei alguém que eu pudesse colocar no patamar acima do bem e do mal. Obviamente existem pessoas que eu admiro e simpatizo. Costumo ser atraída por figuras extremamente humanas, isto é, caóticas, com virtudes, com falhas, com enigmas existenciais, mas que tenham algo especial. São como os semideuses gregos. E John Lennon era uma dessas figuras.
"Mother" é um grito para ambos os pais sobre o abandono na infância. Seu pai Alfred Lennon deixou a família quando John era um bebê, sua mãe Julia , que não viveu com seu filho, apesar de terem um bom relacionamento, foi atropelada e morta por um policial bêbado e fora de serviço quando Lennon tinha 17 anos.
Hoje John Lennon faria 71 anos de idade. Não escondo de ninguém que sou lennonista de carteirinha. Um dos poucos cantores capaz de tocar em minhas emoções. Se eu fosse uma personalidade masculina, sem dúvida alguma escolheria ser o John Lennon. Ou então adoraria conhecer um cara como ele.
Dentre os Beatles, John tinha a melhor voz e era o mais genial do grupo. Não quero dizer que os outros eram pouca coisa, muito pelo contrário. George Harrison era extraordinário. Paul era um excelente músico, um ótimo compositor e cantava muito bem. Muitas vezes é acusado, injustamente, de só fazer “música de elevador e sem nenhuma graça”. Sinceramente, não consigo entender o que certas pessoas têm contra as baladas. A vida não é só doidera ou realidade nua e crua. A vida também é romantismo, é simplicidade. Além disso, ao lado de Paul McCartney, John formou uma das duplas de compositores mais famosa da história da música. Diria que enquanto o Paul era um dia ensolarado, romântico e suave, John era um dia nublado, denso e energético. Por outro lado, dos "fab four" Ringo Star era o que chamava menos atenção, mas foi gênio só pelo fato de ter feito parte da mesma banda desses três mitos, rsrsrs.
"Well, we all shine on". Demais.
Porém John era o grande destaque. Seu temperamento rebelde aparecia na sua forma de cantar, nas letras de suas canções e nas experimentações musicais que fazia. Entretanto, reza a lenda que John pirou na batatinha quando Bob Dylan, acostumado a escrever músicas com teor político-sociais, soltou o verbo dizendo que suas letras (antes do disco Revolver) eram fraquinhas. Lennon encarou isso como uma provocação e então começou a fazer obra-prima atrás da outra. Isso sim é o que eu chamaria de “with a little help from my friends”.
"Ah, bowakawa, poussé, poussé!"
Também não posso deixar de citar o seu grude deliciosamente irritante com a sua japa girl Yoko Ono. Os dois juntos eram uma curtição assombrosa. Posaram nus para a capa e contracapa de um álbum experimental; foram pra cama em favor da paz; e se envolveram com as lutas antirracistas, pelos direitos das mulheres, dos trabalhadores e pelo fim da Guerra do Vietnã.
Um John Lennon feminista. Eu piro com esta música. Procurem a tradução desta canção na internet e vocês entenderão. Maravilhosa!
John Lennon também se aproximou de ativistas da extrema-esquerda dos Estados Unidos, como John Sinclair e os Panteras Negras. Por causa disso, Nixon mandou o FBI perseguir o casal, na intenção de deportá-los. Toda esta situação como ativista político é facilmente percebida nas letras das canções de seus primeiros discos, como por exemplo, "Power to the people", "Working class hero", "Woman is the nigger of the world", "Only People", "Sunday Bloody Sunday" e "John Sinclair".
Esta é a sua canção mais famosa. Nem sempre uma música puramente anarquista precisa ter um tom raivoso. "Imagine" é uma canção belíssima que nos convida a uma reflexão e ao exercício da imaginação de um futuro utópico, mas com muita virtude.
Mas como todo casal, John e Yoko brigaram, depois se separaram e fizeram as pazes novamente. O que pouca gente reconhece é que Yoko também foi importantíssima para a elaboração de suas músicas mais experimentais. Quem escuta as canções da carreira solo de John Lennon, certamente compreende sua obra como um diário pessoal, no qual o ex-beatle falava de suas angústias, de suas alegrias, de suas convicções, da sua mulher, do seu filho e da sua vida.
Apesar de gostar muito do Paul McCartney e de muitas de suas canções - inclusive foi o artista solo que mais vendeu discos nos anos 70 - a discografia de John Lennon, mesmo sendo menor, é muito melhor. Dá um banho no Paul. As músicas de John têm mais energia, mais sustância, mais conteúdo e mais swing.
Quando escuto essa música tenho vontade de chorar. Só um coração de pedra não se emociona, rsrs. Como é linda! Essa Yoko Ono era muito sortuda, rsrsrs.
Antes de terminar, quero comentar que a morte de nenhum outro grande artista mexe tanto comigo como a de John Lennon. Assassinado a tiros por um fã imbecil e cheio de ódio. A maneira estúpida como tiraram a sua vida me dá vontade de chorar. Como sou um pouco chorona e em dezembro costumo ser mais sentimental, nem posso ver especiais sobre o John Lennon, pois já começa a formar um nó na garganta e quando percebo já me emocionei.
Música homenageando sua mulher Yoko. "Oooooh, well, well. Doo, doo, doo, doo, doo"
Para muita gente, sua morte precoce, aos quarenta anos de idade e da forma que foi, o colocou no patamar de um mártir. Não o vejo desta forma, isso é um grande exagero. Pra mim, John Lennon era simplesmente um cara lindo, encantador, especial, visionário, irreverente, polêmico, bem-humorado, ácido, franco, doce, poético e autocentrado (muitas de suas músicas falavam de si mesmo). Enfim, um sujeito de muitas facetas, mas que se escondia atrás de seus pequenos óculos redondinhos. Um homem com uma capacidade impressionante de apaixonar pessoas de várias gerações. Só o que posso dizer é que escutando as músicas desse libriano controverso e absolutamente genial, finalmente consegui encontrar alguém que me entende.
John Lennon extremamente doce. Confesso que gastei muita agulha escutando, ou melhor, quase furei o CD, rsrsrsrs.