domingo, 9 de outubro de 2011

John Lennon: o meu beatle preferido

REPRODUÇÃO

Por Amanda Borba.


Na adolescência, eu fiz parte de um grupo de teatro amador que nunca se apresentou ao público. Lembro que numa das reuniões do grupo, meu professor de teatro perguntou o seguinte: “quais são os seus ídolos?”. Todo mundo respondeu. Quando chegou a minha vez, meu lado bicho-grilo falou mais alto e soltei na bucha Raul Seixas e John Lennon. Hoje não citaria Raul como ídolo, mas o John Lennon com certeza sim.

Na verdade, nunca idolatrei alguém que eu pudesse colocar no patamar acima do bem e do mal. Obviamente existem pessoas que eu admiro e simpatizo. Costumo ser atraída por figuras extremamente humanas, isto é, caóticas, com virtudes, com falhas, com enigmas existenciais, mas que tenham algo especial. São como os semideuses gregos. E John Lennon era uma dessas figuras.

"Mother" é um grito para ambos os pais sobre o abandono na infância. Seu pai Alfred Lennon deixou a família quando John era um bebê, sua mãe Julia , que não viveu com seu filho, apesar de terem um bom relacionamento, foi atropelada e morta por um policial bêbado e fora de serviço quando Lennon tinha 17 anos.


Hoje John Lennon faria 71 anos de idade. Não escondo de ninguém que sou lennonista de carteirinha. Um dos poucos cantores capaz de tocar em minhas emoções. Se eu fosse uma personalidade masculina, sem dúvida alguma escolheria ser o John Lennon. Ou então adoraria conhecer um cara como ele.

Dentre os Beatles, John tinha a melhor voz e era o mais genial do grupo. Não quero dizer que os outros eram pouca coisa, muito pelo contrário. George Harrison era extraordinário. Paul era um excelente músico, um ótimo compositor e cantava muito bem. Muitas vezes é acusado, injustamente, de só fazer “música de elevador e sem nenhuma graça”. Sinceramente, não consigo entender o que certas pessoas têm contra as baladas. A vida não é só doidera ou realidade nua e crua. A vida também é romantismo, é simplicidade. Além disso, ao lado de Paul McCartney, John formou uma das duplas de compositores mais famosa da história da música. Diria que enquanto o Paul era um dia ensolarado, romântico e suave, John era um dia nublado, denso e energético. Por outro lado, dos "fab four" Ringo Star era o que chamava menos atenção, mas foi gênio só pelo fato de ter feito parte da mesma banda desses três mitos, rsrsrs.


"Well, we all shine on". Demais.


Porém John era o grande destaque. Seu temperamento rebelde aparecia na sua forma de cantar, nas letras de suas canções e nas experimentações musicais que fazia. Entretanto, reza a lenda que John pirou na batatinha quando Bob Dylan, acostumado a escrever músicas com teor político-sociais, soltou o verbo dizendo que suas letras (antes do disco Revolver) eram fraquinhas. Lennon encarou isso como uma provocação e então começou a fazer obra-prima atrás da outra. Isso sim é o que eu chamaria de “with a little help from my friends”.


"Ah, bowakawa, poussé, poussé!"


Também não posso deixar de citar o seu grude deliciosamente irritante com a sua japa girl Yoko Ono. Os dois juntos eram uma curtição assombrosa. Posaram nus para a capa e contracapa de um álbum experimental; foram pra cama em favor da paz; e se envolveram com as lutas antirracistas, pelos direitos das mulheres, dos trabalhadores e pelo fim da Guerra do Vietnã.


Um John Lennon feminista. Eu piro com esta música. Procurem a tradução desta canção na internet e vocês entenderão. Maravilhosa!

John Lennon também se aproximou de ativistas da extrema-esquerda dos Estados Unidos, como John Sinclair e os Panteras Negras. Por causa disso, Nixon mandou o FBI perseguir o casal, na intenção de deportá-los. Toda esta situação como ativista político é facilmente percebida nas letras das canções de seus primeiros discos, como por exemplo, "Power to the people", "Working class hero", "Woman is the nigger of the world", "Only People", "Sunday Bloody Sunday" e "John Sinclair".

Esta é a sua canção mais famosa. Nem sempre uma música puramente anarquista precisa ter um tom raivoso. "Imagine" é uma canção belíssima que nos convida a uma reflexão e ao exercício da imaginação de um futuro utópico, mas com muita virtude.


Mas como todo casal, John e Yoko brigaram, depois se separaram e fizeram as pazes novamente. O que pouca gente reconhece é que Yoko também foi importantíssima para a elaboração de suas músicas mais experimentais. Quem escuta as canções da carreira solo de John Lennon, certamente compreende sua obra como um diário pessoal, no qual o ex-beatle falava de suas angústias, de suas alegrias, de suas convicções, da sua mulher, do seu filho e da sua vida.

Apesar de gostar muito do Paul McCartney e de muitas de suas canções - inclusive foi o artista solo que mais vendeu discos nos anos 70 - a discografia de John Lennon, mesmo sendo menor, é muito melhor. Dá um banho no Paul. As músicas de John têm mais energia, mais sustância, mais conteúdo e mais swing.   


Quando escuto essa música tenho vontade de chorar. Só um coração de pedra não se emociona, rsrs. Como é linda! Essa Yoko Ono era muito sortuda, rsrsrs.


Antes de terminar, quero comentar que a morte de nenhum outro grande artista mexe tanto comigo como a de John Lennon. Assassinado a tiros por um fã imbecil e cheio de ódio. A maneira estúpida como tiraram a sua vida me dá vontade de chorar. Como sou um pouco chorona e em dezembro costumo ser mais sentimental, nem posso ver especiais sobre o John Lennon, pois já começa a formar um nó na garganta e quando percebo já me emocionei.



Música homenageando sua mulher Yoko. "Oooooh, well, well. Doo, doo, doo, doo, doo"


Para muita gente, sua morte precoce, aos quarenta anos de idade e da forma que foi, o colocou no patamar de um mártir. Não o vejo desta forma, isso é um grande exagero. Pra mim, John Lennon era simplesmente um cara lindo, encantador, especial, visionário, irreverente, polêmico, bem-humorado, ácido, franco, doce, poético e autocentrado (muitas de suas músicas falavam de si mesmo). Enfim, um sujeito de muitas facetas, mas que se escondia atrás de seus pequenos óculos redondinhos. Um homem com uma capacidade impressionante de apaixonar pessoas de várias gerações. Só o que posso dizer é que escutando as músicas desse libriano controverso e absolutamente genial, finalmente consegui encontrar alguém que me entende.

John Lennon extremamente doce. Confesso que gastei muita agulha escutando, ou melhor, quase furei o CD, rsrsrsrs.


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