quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

30 Anos sem Elis Regina

REPRODUÇÃO


Por Amanda Borba.


“No dia 19 de janeiro de 1982, morreu em São Paulo, a cantora gaúcha Elis Regina Carvalho da Costa, aos 36 anos, em consequência da ingestão de álcool com cocaína.”



Esta foi a notícia que chocou milhões de brasileiros no início do ano de 1982. Eu não era nascida, mas imagino o grande alvoroço que provocou. Afinal de contas, Elis era uma das maiores cantoras de sua geração (para muitos a maior) e estava no auge de sua carreira.



Conheci a Elis Regina na infância. Meu pai sempre gostou da sua interpretação na música “Fascinação”. Era realmente belo e tocante. Porém, meus pais não eram grandes fãs de Elis Regina e só passei a ter contato com sua discografia no final da minha adolescência.

Uma das maiores interpretações da nossa música. Estupidamente magnífico.


Nunca idolatrei a Elis. Gosto de muitas canções, a considero uma cantora maravilhosa, mas de modo geral acho seu repertório chatíssimo. Contudo o que mais me aborrece são os seus fãs. Essa unanimidade toda que o nome dela carrega me irrita. “Ai, Elis! A maior cantora do país!”; “Ninguém canta como a Elis!”; “Elis é única! É a maior”. Ninguém pode contrariá-los. Da mesma forma como fazem com a Clarice Lispector, seus fãs conseguiram transformá-la em algo chato, careta e messiânico, e se estivesse viva certamente detestaria. Por isso, quando escuto essas coisas meu saco arrasta no chão!


Hino da Anistia


Como todo mundo sabe, Elis tinha uma ótima técnica vocal, sendo acusada, muitas vezes, de supervalorizar isso, tornando-se uma cantora fria. O que não é uma mentira, já que em algumas gravações isso pode ser percebido. Porém a técnica para cantar ela teria sempre, levaria até a morte e isso não poderia ser modificado. No entanto também não era um defeito, já que sua voz era um instrumento e deveria sempre ser aperfeiçoado.




Entretanto, sua emoção era o ponto alto de suas grandes interpretações. Como ela mesma dizia, o grau de emoção era controlado para evitar que se machucasse, já que se entregava demais às canções. Mas acho que em muitas ocasiões os arranjos de diversas músicas não lhe davam abertura para que pudesse “soltar a emoção”. Ou mesmo não ficavam bem. Por mais que digam que existe uma crítica à ditadura por trás da interpretação de “Aquarela do Brasil”, não consigo escutar assim. Acho a versão da Elis muito aporrinhadora, assim como a versão jazzística de “As curvas da estrada de Santos” que acaba descambando num berreiro sem emoção alguma. Além disso, ela gravou muitas canções com arranjos que me soavam “novela da Globo, do Manoel Carlos e no Leblon”. Dois exemplos são as gravações de “Folhas Secas” e “Só tinha de ser com você”. Músicas lindíssimas, mas que na minha opinião, os arranjos não combinavam com a potência de voz da Elis. Acredito que se encaixariam melhor com a pequena voz de Nara Leão, por exemplo.


Só tinha de ser com você


Em compensação, quando Elis acertava... Nossa! Era demais! Quando escuto “Como Nossos Pais”, “O Bêbado e o Equilibrista”, “Casa no Campo”, “Deus Lhe Pague”, “Tiro ao Álvaro” e “Aprendendo a jogar” tenho vontade de soltar a voz junto com ela.

Essa música é o meu ideal de vida. "Eu quero uma casa no campo, onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais"



Quero deixar bem claro que considero a Elis Regina uma das maiores cantoras brasileiras e de língua portuguesa. Gosto de várias canções, mas não de tudo que ela gravou. E também não a considero a perfeição em pessoa como, infelizmente, muitos admiradores pregam por aí. Entendo que sua morte precoce no auge da carreira tenha a mitificado, tornando-a uma figura inspiradora para milhões de pessoas. E principalmente para alunos de canto.


Gosto mais da versão do Chico Buarque. Mas essa interpretação é ótima.



Entretanto, por mais que eu não tenha me apaixonado (ainda) pela cantora Elis Regina, minha admiração está em sua personalidade. Se ela era geniosa, temperamental, eu não sei. Talvez fosse mesmo. Não era chamada de “A Pimentinha” à toa. Muitas coisas lhe deixavam louca. Só quem conviveu com ela sabe responder. Porém o que vi em entrevistas foi o seu jeito questionador, ácido, divertido em alguns momentos e com posições feministas, inclusive, até mesmo polêmicas. E isso me fascina justamente porque eu tenho um pouco deste “lado Elis Regina” dentro de mim, mas necessito de tempo e de muita análise para desenvolver melhor. rsrsrsrs...



Para finalizar, deixo este vídeo da Elis Regina e que acho sensacional:


Elis Regina fala sobre aborto e sociedade. Um ótimo video para ser usado em um debate.

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