Por Amanda Borba.
Abastados leitores e abestados leitores. Depois de tanto tempo longe do blog, voltei. Agora que o campeonato brasileiro acabou e o Coringão foi campeão, quero falar sobre algumas coisas que me incomodam no futebol.
Pois bem, cresci escutando aqueles velhos discursos sobre "time da elite" e "time do povo". Um monte de blábláblá e uma divisão completamente estúpida. Por isso, eu resolvi desconstruir alguns "mitos" criados a respeito disso.
Tendo como referência alguns estudos realizados pelo Ibope, Data Folha e cambada a quatro, e analisando as pesquisas sobre as torcidas nas classes mais baixas, Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras aparecem como as maiores torcidas. Assim sendo, Flamengo e Corinthians são os clubes mais “populares” do país. Isso todo mundo está careca de saber.
Quando avalia-se o resultado das entrevistas com pessoas que possuem ensino superior, a ordem é a seguinte: Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco. Agora se o critério for a renda, a mesma ordem se mantem, mas com empate técnico entre Flamengo e Corinthians. Portanto, em termos absolutos, Flamengo e Corinthians também são os clubes mais “elitistas” do Brasil. Convenhamos nada mais natural, já que são as maiores torcidas do país.
O que quero dizer com todas estas informações é que “time de elite” em si não existe. Todos os clubes são do povo e possuem torcedores em todas as classes sociais e em todos os níveis de escolaridade. O que existe na verdade é uma tentativa de “elitizar” todas as torcidas. O futebol que começou como um esporte elitista e para poucos, tornou-se parte da cultura popular, porém sofrendo pressão do capitalismo selvagem. A questão aqui não é focar a mercantilização, mas sim a elitização do esporte. O futebol sempre foi mercado, sempre existiu salário, compra e venda de jogadores, a cartolagem e tudo mais. A diferença é que antes existiam os torcedores de arquibancada e das “gerais” (os famosos arquibaldos e geraldinos) o que aos poucos está diminuindo. Não critico a modernização dos estádios, pelo contrário, é necessário, ninguém merece entrar em pulgueiros, mas repreendo os preços nas alturas, que afastam uma parcela importantíssima da população. Isso sem contar as lojas oficiais de cada clube que fazem seus torcedores pagarem preços abusivos por camisas ou outros objetos do clube.
Certa vez eu conversava com um vizinho corintiano e ele me disse que não ia mais aos jogos do Corinthians por causa dos preços excessivos, pois não eram justos. E estou de pleno acordo. Ir ao estádio já pode ser considerado programa de "rico".
Também não quero dizer que quem tem grana não possa ir ao estádio. O amor por um time de futebol é maior do que qualquer conta bancária. Rico também ama. E de vez em quando usa o coração.
Outro ponto é que a origem de nenhum clube pode determinar o caráter sócio-econômico-cultural de alguma torcida. Se fosse assim, dos times cariocas, o único clube que poderia ser considerado “do povo” seria o Vasco da Gama. Mas na prática isso não acontece. O Flamengo, com origens elitistas, tornou-se o clube com o maior apelo popular no Brasil. Entretanto, a única ressalva se faz, caso essas histórias sirvam como “mitos de origem” e com isso se deseje explicar determinada auto-imagem que o torcedor e porventura o clube tenham em relação a si e aos outros. E, é claro, tudo isso com a ajudinha da mídia, porém não vou me aprofundar nesta questão.
Partindo do exemplo do futebol paulista, uma parte considerável da torcida do São Paulo gosta de ser tachada de “elite”, mesmo que em sua maioria sejam pobres. Mas isso acontece, principalmente, quando o argumento é comparar-se aos corintianos. É a sua auto-imagem sendo confrontada com a auto-imagem do outro. No entanto quero deixar bem claro que isso não é uma característica apenas são-paulina, mas também de palmeirenses, santistas e tantos outros que gostam de falar aquelas ladainhas idiotas como “corintiano é ladrão, analfabeto e favelado”. Da mesma forma acontece o oposto. Para os outros torcedores, os “são-paulinos são arrogantes, frescos e afeminados”, por isso adotam uma postura mais machista e de falsa modéstia (sim, pois todo torcedor é arrogante, principalmente quando o seu time está bem e o seu adversário está na merda).
Depois que passei a ver as coisas desta maneira costumo tirar o sarro desses estereótipos. Ao invés de me irritar com gente que só repete, sem consciência alguma, as coisas que escutam por aí, e de quebra parecer uma chata sem senso do ridículo, a melhor coisa a fazer é rir de si mesmo. As vezes, vejo certas coisas que me fazem querer desitir do futebol, mas o fascínio que o esporte proporciona a tantas pessoas não me permite fazer isso.
O fato é que a elitização do torcedor chegou com tudo e nada indica que vai terminar. Muito pelo contrário. O jeito é acompanhar o seu time pela tv e com todo o conforto do lar.
Geraldinos e Arquibaldos - Gonzaguinha, irmão gêmeo do Doutor Sócrates.
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