sábado, 29 de outubro de 2011

O bem-aventurado Sérgio Sampaio

REPRODUÇÃO


Quase todas as pessoas que conheço, não sabem quem foi Sérgio Sampaio. Por ser um artista que não se encaixava nos padrões dos cantores que as gravadoras desejavam, muita gente o chama de “maldito” da MPB. Sinceramente, acho este termo “maldito” um pouco besta, já que só alguns cantores acabam sendo classificados desta maneira, além da definição não ser muito clara. Lenine, por exemplo, até outro dia era considerado um cantor “maldito” devido seus trabalhos dos anos 80. Porém ele perdeu este rótulo depois que passou a flertar com o pop e a gravar canções de fácil “grude” tendo assim mais acesso ao grande público.

Entretanto, diferentemente de Lenine, Sérgio Sampaio nunca perdeu este título. Assim como a grande maioria, eu não o conhecia. Não sabia se era gordo, magro, alto, baixo e jamais havia escutado alguma coisa sobre ele. Vivia muito bem sem ele. Só fui tomar ciência de suas músicas há bem pouco tempo, coisa de um ano, um ano e meio. Lembro que foi através do Orkut. Numa das comunidades que eu participava, um membro postou um tópico falando sobre ele. Fiquei acompanhando a conversa do pessoal e assistindo cada um dos vídeos que iam sendo postados. Confesso que minha primeira reação foi ficar atônita. Suas composições eram absolutamente arguciosas e sua voz muito gostosa de ouvir. Foi paixão à primeira escuta.


Sérgio Sampaio nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, cidade que tem como filho mais ilustre o cantor Roberto Carlos. Devido este fato, quando ele fez sucesso com a música “Eu quero é botar meu bloco na rua”, que por sinal é sua canção mais conhecida, muitas pessoas achavam que Sérgio seria o sucessor do Robertão. O que não aconteceu, já que ambos eram absolutamente dessemelhantes. Outra curiosidade é que foi seu pai, Raul Sampaio, que compôs a música “Meu Pequeno Cachoeiro” gravada pelo Robertones no disco de 1970.

Buscando novos ares, Sérgio saiu de Cachoeiro e partiu para o Rio de Janeiro. Lá ele conheceu um baiano muito doido chamado Raul Seixas, que na época era produtor musical da gravadora CBS. O encontro dos dois foi eletrizante e do curto-circuito nasceu uma breve parceria. Muitos dizem que Raul seria a sua alma gêmea musical. A diferença é que Sérgio não conseguiu a mesma notoriedade e idolatria que Raulzito conquistou. O jeito de ser de Sérgio Sampaio foi o que mais colaborou com o ostracismo do cantor. Ele não queria fazer sucesso, seu interesse era simplesmente deixar suas obras para a posteridade.

De todo modo, Sérgio gravou vários estilos, como samba, choro, rock, blues, baladas e realizou algumas incursões pela música pop. Suas composições eram debochadas, escrachadas, melancólicas, ácidas, pessimistas e desesperadas. As principais influências estavam nas obras de Kafka e do poeta mais cabra-macho que existiu neste país, Augusto dos Anjos.

Independente de ser ou não “maldito”, Sérgio Sampaio foi um fantástico compositor e que por ironia do destino foi muito subestimado. Ele supera muitos outros compositores que são venerados por aí (não citarei nenhum para evitar maiores problemas, rsrsrs). Dos cantores atuais, Sérgio influenciou Zeca Baleiro, que lembra um pouco o seu estilo, mas sem a mesma genialidade.


Infelizmente, Sérgio Sampaio morreu de pancreatite, em 1994, graças ao abuso nas carraspanas. Não se tem certeza, mas é possível que, se estivesse vivo, sua visão sobre a carreira poderia ser completamente distinta, já que estaria mais experiente. Talvez até deixasse de ser tão “maldito” e cairia nas graças do público como um “abençoado” da música brasileira. Sua discografia é pequena, mas vale muito a pena escutar. Ouçam e deslumbram-se com um dos maiores compositores (esquecidos) da nossa música.



Marcha-rancho "Eu quero é botar meu bloco na rua", de 1973.


O xote elétrico "Quero ir" foi uma das parcerias de Sérgio Sampaio com Raul Seixas no disco "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10".


Samba "Odete". "Por entre bancários, automóveis"


Sérgio era um cantor muito expressivo e extremamente melódico. "Eu sou quem curte o silêncio, o momento, o segredo. Quem geme de frio. Quem tem medo. Quem anda abatido."



"Meu pobre blues" foi uma ambígua elegia para o seu conterrâneo Roberto Carlos. Interpretação de Zizi Possi.


Quem curte samba-canção vai se apaixonar por "Velho Bode". "Você é um fracasso no meu lado esquerdo do peito. Uma corda de nylon de aço que arrebenta quando eu faço nó".


"Ninguém vive por mim" é um pop bastante suingado e que relata a difíil relação de Sérgio Sampaio com a indústria fonográfica.


"Que loucura" é um fox em homenagem ao poeta e letrista Torquato Neto.




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